Cuiabá Esporte Clube

O Clube / Institucional

Série Cuiabá 20 anos

A FUNDAÇÃO

A FUNDAÇÃO
Aposentado dos gramados, fã de pescaria e com fazendas em Mato Grosso, Luís Carlos Toffoli, o Gaúcho, decide montar uma escolinha na capital mato-grossense, no primeiro desafio pós-carreira do ex-atacante que brilhou com as camisas do Flamengo, Palmeiras, Grêmio, entre outros. 

Criada inicialmente com foco nas categorias de base e disputa de torneios amadores, a então Escolinha do Gaúcho, que ficava perto do Córrego do Barbado, foi avançando à medida do sucesso que viria 20 anos depois, com o clube na Série A do Brasileirão.

– O Gaúcho tinha uma escolinha em Indaiatuba, interior de São Paulo, e que dava super certo, era bem legal. E ele tinha amigos em Cuiabá, principalmente o Neto Nepomuceno. Eles jogaram juntos no Flamengo e sempre se encontravam para pescar. Em uma dessas idas eles combinaram de abrir a escolinha. Isso foi em 1997 – disse Inês Galvão, viúva de Gaúcho.

Neto Nepomuceno deu mais detalhes de como surgiu a ideia de montar o negócio na capital mato-grossense.

– Ele vinha para cá pescar todo ano, éramos muito amigos. Quando ele estava parando a carreira eu estava morando em Cuiabá. Aí montamos a escolinha e ele veio de mudança. A escolinha foi crescendo na questão de categorias, formação de atletas, houve essa necessidade da gente criar o clube, federar jogadores, participar de competições – disse Neto.

Inicialmente, a escolinha seria criada em Rondonópolis, cidade natal de Neto, mas isso logo foi descartado. Segundo Inês, Gaúcho tinha acabado de se aposentar dos gramados apesar de ainda ter tido propostas para continuar no futebol.

– O projeto foi crescendo e ele resolveu ficar em Cuiabá. Poucos meses depois eu também larguei tudo no Rio de Janeiro e vim morar com ele. O Gaúcho tinha o sonho de sair do Rio quando terminasse a carreira para criar os filhos. Tivemos três, além de um que eu já tinha quando nos conhecemos – afirmou Inês.

A escolha do nome

Com o passar dos anos, a Escolinha do Gaúcho já estava consolidada e veio a necessidade de dar um passo a mais para movimentar as jovens promessas em torneios estaduais da base.

– Chegou em novembro de 2001 e aí surgiu de montar um clube para a categoria de base. Veio uma ideia do Gaúcho de comprar o Palmeiras do Porto (clube da Baixada Cuiabana), pois qualquer outro clube que a gente fosse montar teremos rejeição, o povo aqui é muito bairrista – completou Neto.

– A escolinha foi tomando corpo, crescendo e lá na frente, em 2001, que eles começaram a visualizar a criação de um time. Inicialmente, ele se chamaria Mato Grosso, mas aí viram que esse nome já estava registrado – disse Inês, que completou citando como chegaram ao nome de Cuiabá.

– O Gaúcho estava reunido com o pessoal da escolinha e eu estava passando por ali na sala, servindo comida, um cafezinho e foi aí que eu falei: “Gente, o time é da cidade, é daqui de dentro, tem que se chamar Cuiabá. Eu nem fazia parte da reunião, mas dei meu pitaco e no fim deu certo.

A história foi confirmada por Heroney Lima, atual treinador do time feminino do Cuiabá, e que era muito amigo do casal Gaúcho e Inês Galvão.

– Me lembro bem dela com uma travessa nos servindo e falou desse jeito mesmo: “Em São Paulo tem o São Paulo, em Fortaleza tem o Fortaleza, em Curitiba tem o Coritiba, então Cuiabá tem que ter o Cuiabá”. A gente se olhou e ficou pensando nisso. Dias depois, o nome estava oficializado, relatou Heroney.

Ele lembra ainda que um dos nomes cogitados por Gaúcho seria Pantanal Futebol Clube.

– Mas no fim, vimos que levar o nome da capital mato-grossense era o mais certo. Ainda bem que a Inês passou na reunião no momento e no alertou disso – completou Heroney aos risos.

Neto Nepocemuno lembra que no início o nome Mato Grosso chegou por conta uma parceria com empresários de Várzea Grande. Jogadores da escolinha do Cuiabá foram emprestados para disputar o Mato-grossense pelo Asdem (Associação Desportiva Mato Grosso).

– Mato Grosso foi uma sociedade que foi feita com um pessoal de Várzea Grande. O trabalho estava sendo bem feito, mas eles não entendiam de futebol e começaram a interferir no trabalho e a parceria foi desfeita. Eles chegaram a disputar o Mato-grossense em 1999 e acabaram rebaixados. Depois disso, vimos que tínhamos que montar nosso próprio clube.

O início

Segundo Neto Nepomuceno, o foco inicial era a disputa dos estaduais da base, mas logo veio a necessidade de ampliar o projeto. Segundo ele, no final de 2002 o clube decidiu disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior, o principal torneio de base do país. Isso foi o propulsor para a profissionalização do Dourado.

– Começamos com a base, aí surgiu a ideia para disputar a Copa São Paulo em janeiro de 2003, mas só podia ir quem já tinha um clube profissional, e a gente não era profissional. Aí fomos falar com o então presidente da federação estadual, Carlos Orione, e explicamos que estávamos dispostos a resgatar o futebol de Mato Grosso e o Cuiabá já tinha uma estrutura boa. Se ele conseguisse a vaga para a Copa São Paulo, a gente iria disputar o Mato-grossense com um time forte, jovem para resgatar o futebol estadual que na época estava em decadência com muitos clubes licenciados – relatou Neto.

Inês Galvão ressaltou as dificuldades no início, mas lembrou como as coisas foram dando certas com a união de todos.

– Não tinha patrocínio no começo, era bem complicado. Eu que lavava os uniformes dos jogadores junto da minha assistente, a Zuleide. E eu fazia umas mandigas, um chá de erva doce, spray com cheirinho, para dar sorte. Tínhamos alojamentos na escolinha, eles faziam refeições lá e eu cozinhava. A mãe da Zuleide era cozinheira e íamos nos virando. O Gaúcho sempre foi um cara muito positivo e determinado. Ele sempre conseguia o que queria.

Neto também endossou o coro que a união do grupo fez a diferença para o sucesso repentino. Segundo ele, todos se ajudavam em prol do objetivo.

– A gente tirava dinheiro do bolso. Os pais nos ajudavam muito. Com pequenas quantias, mas que pagavam as despesas do dia a dia. Tinha um pai de um aluno que tinha um mercado e nos garantia alimentação. Essas coisas foram fundamentais.



Mascote, brasão e hino

Com o clube criado e nome definido, restava escolher como seria o brasão, a escolha do mascote e a elaboração do hino.

– Fizemos uma pesquisa após a escolha do nome e falou-se sobre o centro geodésico da América do Sul, de Cuiabá ter isso em sua geografia. Foi aí que veio essa confirmação de que teríamos que usar – afirmou Neto, completando sobre como o hino foi criado.

– O Henrique e o Claudinho (dois músicos de Cuiabá), eram amigos nossos e eles chamaram o Pescuma, outro músico conhecido, para fazer o hino. Sentamos na mesa e fomos colocando no papel, tudo em conjunto. E até o hino nos abençoou pois ele diz: “Nasceste predestinado para ser um grande campeão”. É um clube predestinado, tem uma história muito bonita.

De acordo com Neto, foi através da elaboração do hino que veio a ideia de definir o Dourado como mascote oficial. O peixe Dourado é conhecido como o Rei do Rio, pela característica de predador e travar brigas intensas ao ser pescado.

Heroney Lima, amigo da família, contou uma história curiosa sobre o primeiro mascote pensado por Gaúcho, mas que também tem relação com rio e o Pantanal.

– Em uma de nossas pescarias, o Gaúcho viu uma sucuri. E ele logo quis ir embora, ficou com um pouco de medo. E ele queria que o mascote fosse uma sucuri, porque todos têm medo. Mas depois falamos para ele que ter uma cobra como símbolo não poderia ser muito bom, pois tem aquela questão de mal sentido. Depois ele ainda descobriu que tinha um bairro chamado Sucuri e ele queria levar a sede do clube para lá. Ele gostava dessas brincadeiras – confirmou Lima.

 

OS DOIS PRIMEIROS TÍTULOS

Predestinado para ser um grande campeão

Em meados de 2002 e com menos de um ano de fundação, o Cuiabá Esporte Clube priorizava as disputas nas categorias de base. Àquela altura, disputar somente torneios amadores não bastava mais para os fundadores, acostumados com grandes conquistas. Era preciso dar saltos maiores, avançar e fazer do clube, de fato, um grande campeão.

Com essa meta de expandir horizontes e deixar de ser um time somente estadual, Neto Nepomuceno, um dos idealizadores do Cuiabá, colocou sua pastinha embaixo do braço e se dirigiu à sede da Federação Mato-grossense de Futebol, então comandada pelo então presidente Carlos Orione, o Barão, que na época já acumulava mais de 20 anos no poder.



A missão: conseguir uma vaga na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2003, considerado o principal torneio do país na categoria. O empecilho: para disputar era necessário ser um time profissional, o que ainda não era o caso do Cuiabá.


Interessado em ver mais um time surgindo e com enorme potencial, Orione aceitou indicar o Cuiabá para a competição nacional, mas com uma condição.

– Surgiu a ideia para disputar a Copa São Paulo, mas só podia ir quem já tinha um clube profissional, e naquela época ainda não éramos um time profissional. Mas eu fui falar com o Carlos Orione e mostrei todo nosso projeto, que queríamos resgatar o futebol de Mato Grosso, com nossa estrutura que já era muito boa – relatou Nepomuceno na conversa para convencer o já falecido Orione.

– Eu falei que se ele conseguisse a vaga, a gente iria montar um time para jogar o Campeonato Mato-grossense, com essa proposta mais profissional, de levantar o futebol estadual novamente. Naquele ano, os times estavam praticamente falidos. E foi dito e feito. Ele aceitou, a gente disputou a Copa São Paulo em janeiro e pouco depois estávamos na disputa do Mato-grossense, também como convidado. Mal eles sabiam que já seríamos campeões – completou Nepomuceno.

Formação do time

Antes de montar a equipe, a diretoria tinha ciência que o primordial era trazer um comandante à altura do projeto e que, principalmente, tivesse a confiança de todos. O nome em consenso foi o de Oscar Conrado, que tinha atuado na base do Flamengo com Gaúcho e Neto Nepomuceno.

– Tínhamos jogado com o Oscar Conrado no Flamengo e eu ajudei a indicar. O Oscar estava em Manaus e tendo sucesso por lá. Trouxemos ele para ajudar a montar a equipe que tinha uma folha de apenas R$ 22 mil. Como comparação a do União era de R$ 200 mil – afirmou Neto.



A parceria deu mais do que certo. Oscar Conrado foi contratado e foi o comandante do bicampeonato estadual em 2003 e 2004. Ele mesmo conta como foi a chegada ao Dourado.

– Conheci o Gaúcho quando a gente tinha 15 anos, e fizemos amizade muito forte no mirim do Flamengo. Mas cada um seguiu seu caminho, tanto que eu joguei no Operário de Várzea Grande na década de 90 e o Gaúcho seguiu pelo RJ. Quando encerrei a carreira virei treinador e já tinha comandado várias equipes em Amazonas, Minas Gerais, Rondônia, até que ajudei a montar uma equipe em Amazonas, o Grêmio de Coariense, no início de 2003 – disse Conrado.

Adendo da assessoria: entre os atletas que estavam no Grêmio-AM era o zagueiro Maurício Canhão, lendário jogador que depois virou ídolo do Dourado, mas isso será tema dos próximos parágrafos.

Voltando ao convite de Oscar Conrado para comandar o Cuiabá, o treinador disse que o pedido para assumir o Dourado veio em um encontro inesperado entre ele e Gaúcho.

– Um tempo antes do convite oficial para assumir o Cuiabá, encontrei o Gaúcho lá no Paraná. Era um torneio sub-23 de seleções estaduais. Eu no comando do time de Amazonas e o Gaúcho com a equipe de Mato Grosso, que já tinha alguns jogadores do Cuiabá. Foi um reencontro muito bacana, eram muitos anos que a gente não se vinha, mas nossa amizade sempre foi muito forte – disse Conrado, que completou.

– E nesse encontro, ele falou que estava montando um time e me queria como treinador. Eu falei que seria um prazer, não tinha como falar não. Ainda mais que tinha o Neto na diretoria também, outro grande amigo. Mas aí cada um voltou para seus estados e eu dei prosseguimento à montagem do Grêmio lá em Amazonas. Era um projeto da prefeitura da cidade e deu muito certo. A gente estava na liderança, com o time encaixado, mas aí o telefone tocou – continuou Oscar Conrado.



Do outro lado da linha, Gaúcho cumpria o que havia prometido e oficializava o convite para Oscar Conrado assumir o Cuiabá.

– Atendi o telefone e ele falou: “Oscar chegou a hora, você é o nosso treinador”. Aí falei que estava no meio do campeonato em Amazonas, mas ele insistiu que precisava de mim, que queria e precisava contar comigo: “Oscar, eu já te conheço, sei como você é, vem trabalhar conosco”.

Ciente de que o projeto era sólido e com a forte amizade criada anos antes, no mirim do Flamengo, Oscar Conrado não teve dúvidas que ser o treinador do Cuiabá era a decisão correta.

– Ainda pedi uma semana para pensar, pois estava com um projeto muito bom também. Mas pensei comigo que não poderia deixar meu amigo na mão. Aí pedi demissão, os responsáveis não gostaram muito, mas tentei monitorar de longe, indiquei um treinador para me substituir – finalizou.

– Tínhamos jogado com o Oscar Conrado no Flamengo e eu ajudei a indicar. O Oscar estava em Manaus e tendo sucesso por lá. Trouxemos ele para ajudar a montar a equipe que tinha uma folha de apenas R$ 22 mil. Como comparação a do União era de R$ 200 mil – afirmou Neto.

Com o treinador definido, era hora de montar o grupo para disputar o Campeonato Mato-grossense de 2003. Além de manter jogadores que disputaram a Copa São Paulo de Futebol Júnior, o Dourado foi ao mercado para buscar atletas acostumados com o futebol local. E a estratégia deu certo.

A montagem do grupo para o Mato-grossense 2003 foi baseada nos contatos que o Gaúcho, Neto e Oscar Conrado tinham no mundo da bola, ainda mais por Gaúcho ter acumulado passagens por grandes clubes do país como Flamengo, Palmeiras e Grêmio. A rede de cartolas era extensa facilitada ainda mais por ser um projeto de pessoas com moral no mundo da bola.

– O Gaúcho sempre foi um cara muito positivo e determinado. Ele sempre conseguia o que queria. A forma com que ele lidava, a positividade, tinha uma harmonia grande. Na época eles contrataram o técnico Oscar Conrado, um profissional muito bom. Eles tinham uma combinação muito forte, um escutava o outro. Não tinha ego, era tudo uma união. O Gaúcho foi jogador e ele sabia conversar com os meninos. Ele sabia lidar com os meninos, respeitava muito eles. Havia essa harmonia, não tinha brigas de egos dentro do clube – disse Inês Galvão, viúva de Gaúcho e que acompanhou de perto todo o processo inicial do Dourado.

Oscar conta ainda que faltando poucos dias para o início do Mato-grossense e ainda tinham jogadores chegando para reforçar o grupo.

– Faltavam 12 dias para começar o campeonato e ainda não tínhamos o grupo fechado, foi uma correia, uma loucura. Aí perdemos para o Sinop na estreia, mas senti que montamos uma semente positiva ali. Conversava com o Gaúcho, pedia paciência e falava que as coisas iam fluir. Gaúcho queria resultado imediato, era o jeito dele. Aí veio o segundo jogo, o terceiro jogo e vencemos a primeira, aí as coisas acontecerem – disse Conrado.



União, família, profissionalismo

Uma das bandeiras do Cuiabá sempre foi o profissionalismo, salário em dia e estrutura para os atletas trabalharem. E foi desta forma que o clube alcançou o sucesso repentino, que talvez nem os próprios fundadores esperavam.

– Nossos salários eram baixos, me lembro que ganhávamos em média R$ 600 cada um. Mas o pagamento era em dia, o que era difícil de acontecer naquela época em Mato Grosso. A estrutura era boa, a gente concentrava na escolinha. As premiações também sempre eram pagas. Isso tudo contou para o sucesso – disse o ex-meia Robinho, camisa 10 do time e um dos principais destaques do início do Dourado.

– O futebol de Mato Grosso estava morto. Com a nossa chegada, todos voltaram. O Cuiabá foi o grande responsável em resgatar o futebol estadual novamente. A gente morava junto, almoçava e jantava juntos. Não tinha jogador com vício. O pagamento era em dia, então vimos que essa estrutura poderia dar resultado. E não deu outra – completou Neto Nepomuceno.

– O grupo não tinha vaidade. O massagista era igual a gente, roupeiro era igual a gente. O que fosse fazer, eles estavam com a gente. As tias da cozinha… a premiação a gente dividia. Era uma família – emendou Robinho.

– O Cuiabá era uma família grande, nos emocionávamos juntos, sofríamos juntos, éramos felizes juntos. Eu sou muito grato por tudo aquilo que vivemos. Foi uma união muito grande – relatou Oscar Conrado.

Liderança da chave, horário atípico e parte física

Logo na estreia do Mato-grossense 2003, o Dourado perdeu para o Sinop por 2 a 1, no Gigante do Norte, em jogo marcado pela estreia da equipe auriverde em competições profissionais. Apesar do revés, o time não se abateu e foi, jogo a jogo, somando os pontos necessários para a classificação.

Ao fim da primeira fase, o Cuiabá, predestinado como sempre, terminou na liderança com 21 pontos. A classificação para a fase seguinte estava mais que garantida.

– Começamos para fazer uma boa campanha, sabíamos que nosso time era bom e com qualidade técnica. A gente foi ganhando e ganhando, quando classificamos em primeiro lugar na primeira fase vimos que dava para chegar mais longe. O time estava encaixado e bem fisicamente – afirmou Robinho.


– Tínhamos uma confiança grande porque formamos um grupo jovem, não tinha medalhão, o Oscar Contado era ex-atleta e sabia bem como lidar com tudo aquilo. Foi uma receita de sucesso – complementou Neto.

Um dos diferenciais do Dourado foi, além da qualidade técnica, a parte física. Segundo o ex-meia Robinho, o clube costumava treinar e jogar no mesmo horário, mas em turno diferente do habitual.

– O primordial para ser campeão era a parte física, treinávamos muito com o Oscar Conrado. Começava às 8h e parava quase 11h. O nosso time não era o melhor tecnicamente, mas fisicamente sobrava. Tinha muitos times a nossa frente na parte financeira e técnica. Mas a gente treinava demais. E usamos isso como principal fator, colocava o jogo no antigo Verdão às 10h. Era muito quente, mas estávamos acostumados – afirmou o ex-camisa 10.

Oscar Conrado e Neto Nepomuceno também ressaltaram que essa tática foi pensada e aprovada por todos.

– Eu falei com a diretoria que o diferencial seria treinar em horário diferente. Aí começamos a treinar 9h, com aquele sol quente. Aí estendíamos o horário até umas 11h, era o nosso reforço fora de campo. O time sensação era o União, então tivemos que trabalhar em cima do que tínhamos. E quando entrava em campo a gente atropelava. Sacamos isso rápido. Foi nosso diferencial. Aí ninguém mais parou a gente – relatou Conrado.

– Nosso time era jovem. A gente treinava às 10h e jogava às 10h. Então estávamos sempre em forma e os adversários acabavam cansando no segundo tempo. E sempre primamos pelo profissionalismo. Jogadores tinham horário para chegar, regras para cumprir. A gente entrava em concentração às vezes dois dias antes do jogo. O grupo era muito unido – afirmou Neto.

Com a vaga garantida nas quartas de final, o Dourado enfrentou o União de Rondonópolis, que na época era um time badalado e com dinheiro. Mas nada disso tirava a confiança do grupo, que se apegou em alguns detalhes extracampo para se motivar ainda mais em busca do título.

– Antes do campeonato começar, fizemos um amistoso contra o União e perdemos de 4 a 0, fora o baile. Mas depois, terminamos a primeira fase na liderança de um grupo e o União em quarto lugar do outro, então nos encontramos. O primeiro jogo foi em Rondonópolis e quando chegamos no hotel vimos a capa do jornal com provocações ao Cuiabá. Era algo como: “Se no amistoso foi quatro, imaginem quanto será agora?”. Pegamos esse jornal e colocamos no vestiário. Serviu de inspiração. Era questão de honra ganhar deles lá dentro. No fim, empatamos em 3 a 3 e levamos a vantagem para casa – disse Robinho.

Nos bastidores, o União ainda tentou atrapalhar a vida do Cuiabá. O então governador Blairo Maggi, torcedor declarado do Colorado, articulou e conseguiu. Mas em campo, a força e a valentia do Dourado predominaram.

– O jogo estava marcado para às 10h, como sempre, mas o Blairo Maggi mandou uma carta para a federação exigindo para colocar o jogo às 16h, ele era o governador né. Aí mudou. Mesmo assim ganhamos de 1 a 0 e garantimos a vaga para a semifinal. Depois daquele jogo, aí tivemos a certeza que o título era nosso. A confiança era grande – falou Robinho.

Na semifinal, o Dourado eliminou o Grêmio de Jaciara e enfrentou o Barra do Garças na decisão. Depois do empate em 1 a 1, fora de casa, o Dourado garantiu o título com a vitória por 3 a 2, no Verdão, com gols de Ronaldo Paulista, Clebinho e Maurício Canhão, naquele que seria o primeiro dos 10 títulos estaduais conquistados pelo clube auriverde.

– O Cuiabá já nasceu campeão. Sempre gosto de exaltar isso. Tudo que o Gaúcho fazia dava certo. Foi uma festa e uma alegria muito grande. Me lembro bem da emoção dele em levantar a taça, ver o sucesso tão rápido do clube. Ele ficou muito orgulhoso pois sabia que era um clube promissor, que ainda daria muitas alegrias – relembrou a viúva Inês Galvão.

A potência de Maurício Canhão

Falar do início do Cuiabá é lembrar do zagueiro-artilheiro Maurício Canhão, com seu potente chute que infernizava a vida dos goleiros adversários. Ao todo, foram 76 jogos e 14 gols marcados, segundo números levantados pelo pesquisador Sérgio Santos.

Foi dele, por exemplo, um dos gols na vitória sobre o Barra do Garças por 3 a 2, na decisão do Mato-grossense, em uma bomba de falta, especialidade de Canhão – daí, obviamente que veio o apelido.

O gol de falta não foi por acaso, mas antes vamos conhecer como foi a chegada de Maurício Canhão ao Cuiabá, com o Mato-grossense 2003 já em andamento. O responsável por isso foi o treinador Oscar Conrado.

– O time que eu comandava lá no Amazonas foi campeão e eu conversei com a diretoria para trazermos alguns jogadores, pois sabia da qualidade deles e tinha convicção que seriam importantes para nossa sequência no campeonato. Um deles era o Maurício Canhão que tinha esse diferencial do chute forte, potente, mas que também era um excelente zagueiro – disse Conrado.

– E eu queria que acabasse o campeonato logo no Amazonas, para a gente puxar ele. Tanto que no dia seguinte ao término do torneio lá, o Maurício já estava com o contrato aqui. Eles não foram nem pra casa, eram de São Paulo. Saíram de Manaus e já vieram para Cuiabá. Aí o Gerson Wellington (supervisor do clube na época e funcionário até hoje) conseguiu inscrever a tempo. Me lembro que chegaram em uma quarta e as inscrições encerraram na sexta. Não teve nem adaptação. Já coloquei no domingo e já jogaram.



Com o talento da força na perna, Maurício era conhecido por ser um homem calado, humilde, mas determinado em tudo que fazia, como conta o preparador físico do Cuiabá na época, Osvaldo Júnior.

– Era um cara que não tinha amigo nenhum. Um cara na dele, não conversava com ninguém. Mas treinava demais, era um cavalo para treinar. Ele tinha tanta confiança, a batida na bola dele era um tormento para todos. Mas ele se esforçava para isso. Por mais que tenha uma precisão, tem que treinar. Ele batia 50, 60 cobranças por treino. Tinha dias que tínhamos que segurar ele, para não cansar – contou Júnior.

– Mauricio ficava até tarde treinando, mas tinha muita qualidade. Com o grupo ele não abria a boca para nada. Nem em campo, jogava quieto. Não fazia mal para ninguém. Não fazia mal para uma formiga, tinha cum coração limpo e puro. Ele não conseguia falar, se expressar de tão humilde que era. Quando chegava um cara do sub-19, por chamava, e chamava a atenção dele, ele já abaixava a cabeça. Era a natureza dele. Mas sou muito grato a ele, foi muito importante, um cara muito humilde. Merece todo nosso respeito – completou Oscar Conrado.

Os gols de falta não demoraram a sair e sempre decisivos como nas quartas de final contra o União, em 2003, e claro, o da finalíssima diante do Barra do Garças no mesmo ano.

– Ele não conversava, era um cara isolado, mas ele sabia o que eu queria e ele sabia o que podia dar. Um zagueiro excelente, sabia se posicionar. Tinha um chute muito potente. Há muito tempo não vejo alguém bater na bola como ele. Era aquela porrada certeira, a bola fazia curva. Me lembrava batedores como tínhamos na época, estilo Éder Aleixo e Nelinho – analisou Conrado.

Osvaldo Júnior lembrou de uma história curiosa com a persistência de Canhão ao término dos treinamentos e, claro, por conta da força excessiva nos chutes.

– Terminava o treino e ninguém queria ficar na barreira. Imagina levar umas boladas daquelas. Aí o Gaúcho mandou fazer duas barreiras móveis, dessas de madeira. E ele quebrou as duas nos treinamentos. O Canhão tinha uma musculatura privilegiada.

A campanha do título

16 jogos
10 vitórias
3 empates
3 derrotas
33 gols marcados
21 gols sofridos
Artilheiro: Buiú, com nove gols

Time-base: Perereca; Filhão, Léo, Maurício Canhão e Paulinho; Tita, Robinho, Ronaldo Paulista (Santos) e Clebinho (Marinho); Valdemir e Buiú (Sandrinho). Técnico: Oscar Conrado.

O bicampeonato, Gaúcho parceiro e mais provocações

Passada a euforia do primeiro título, o Cuiabá tinha o desafio de manter a superioridade no ano seguinte, em 2004. A base do elenco foi a mesma, assim como a comissão técnica liderada pelo treinador Oscar Conrado.

Na primeira fase, o Dourado terminou na liderança do grupo A com 30 pontos, em um torneio fora do habitual, com regulamento que previa quatro fases para chegar aos finalistas. Na segunda, o clube foi o quarto colocado. Já na terceira, eliminou o Operário no mata-mata e fechou a quarta em segundo lugar, atrás apenas do União, que naquele ano havia recebido ainda mais investimentos em relação ao ano anterior.

Detalhe: nos dois jogos entre Cuiabá e União na quarta fase, o Colorado venceu as duas.

– Em 2004 viemos com mais maturidade, já éramos uns dos favoritos. Aí foi quando o União quis desbancar a gente e montou um grande time, despejou dinheiro, trouxeram jogadores de nome. Mas nós também trabalhamos forte. A campanha que o União fez parecia que seria o favorito. E nós íamos ganhando com vitórias mais apertadas, mas ganhamos a condição de ser finalista – afirmou Conrado.



Com os dois garantidos na final, a rivalidade àquela altura já era grande. Primeiro pelo Cuiabá ter eliminado o União em 2003. Segundo pelo Colorado nunca ter sido campeão em 30 anos de vida naquela ocasião.

– Eu lembro que tinha muita rivalidade dos outros times, principalmente o União. Teve um jogo que gritaram meu nome na arquibancada e não foi muito legal não. Ele me ligou e eu consegui ouvir os xingamentos. Mas a gente deu risada, ele estava habituado com isso, com essas provocações. Eu não costumava ir aos jogos, nem quando ele era jogador. Ficava em casa rezando, fazendo minhas mandingas – disse a viúva Inês Galvão.

Nos bastidores, o União agiu novamente e exigiu da federação a vinda de um árbitro que não fosse de Mato Grosso para o jogo da volta, em Rondonópolis, pois na justificativa deles o quadro estadual não estava à altura de uma decisão. A FMF acatou o pedido e convidou o ex-árbitro Paulo César de Oliveira, que na época era um dos principais do país.

– Eles indicaram o árbitro, estavam criticando muito a arbitragem local e trouxeram o Paulo César de Oliveira. Aí eles achavam que isso ia ajudar eles. E foi ao contrário, o Paulo foi muito justo, era um árbitro dos melhores do Brasil e ele não se intimidou com o estádio deles lotado – analisou Conrado.

No jogo de ida, os times empataram em 3 a 3 no antigo Verdão. A decisão ficou mesmo para o Luthero Lopes, em Rondonópolis, mas com o Cuiabá jogando pelo empate por ter feito a melhor campanha no geral. Assim como em 2003, o Dourado viu o adversário cantando vitória antes do tempo sem lembrar que futebol se resolve dentro de campo.

– A gente jogava pelo empate para garantir o bicampeonato. Chegamos no hotel e o povo de Rondonópolis, do União, fazendo carreata no sábado, comemorando o título. Eu corri no hotel e colocamos os jogadores no ônibus para eles verem a comemoração antecipada. Aí voltamos para o hotel, os jogadores se reuniram em uma sala para conversar e me lembro bem do que falaram: “Nós não vamos perder, eles não serão campeões, estão nos menosprezando. Nós seremos campeões”. Até me arrepio em contar isso – disse Neto Nepomuceno.

– A final foi no Luthero Lopes lotado, não cabia mais ninguém, foi o maior público pagante na época do campeonato. E eles montaram, antes do jogo, toda uma festa, com carreata, se consideravam campeões. Em Juscimeira deixaram dois carros eletrônicos, carro de som, encomendado, a cervejada, o chopp, estava tudo pronto, era só o time jogar e ganhar. Nós ficamos hospedados em Jaciara e isso vazou para nós. E usamos aquilo ali como motivação para nós, pois estavam comemorando. E nosso time tinha muita hombridade, e falamos que íamos buscar o bicampeonato – confirmou Conrado.

O 0 a 0 no placar garantiu a festa do Cuiabá e o bicampeonato no Luthero Lopes, tomado pela cor vermelha, mas que viu o verde e amarelo cantar mais alto. Foram cerca de 15 mil pagantes.

– O desespero do adversário era tão grande que um dirigente do União entrou em campo, tocou para o atacante deles e fizeram o gol. Mas o árbitro encerrou o jogo ali. O Ataliba (volante) recuou a bola para o Rocha (goleiro), e esse dirigente (Carlos Ferrari) trombou nele e tocou para o atacante fazer o gol. Não entendemos nada, mas o árbitro teve bom senso e encerrou o jogo ali, pois já estava nos acréscimos. O Luthero estava lotado, até fizeram uma festa bonita, mas quem fez a festa de verdade e saiu campeão foi o Cuiabá – relatou Robinho.

– O União tinha mais dinheiro, mas não tinha o que a gente tinha, que era mais amor, mais união, mais família – finalizou Conrado.

A conquista do bicampeonato teve um consenso entre os envolvidos: a parceria que Gaúcho tinha com o grupo. Isso fez com o que o elenco se fechasse ainda mais em prol do objetivo.

– O Gaúcho era um cara sensacional, ele viveu o futebol e sabia como tratar os jogadores. Ele falava que tinha sido atleta, sabia como era, que também gostava de pagode, de cerveja. Mas que tinha que saber o horário para fazer isso. A gente jogava domingo no estádio Verdão e ele falava que se a gente ganhasse os jogos, dois camarotes estariam liberados para os jogadores em uma casa de pagode (que ficava na Avenida Mato Grosso) com tudo pago. A gente entrava mais motivado. Um presidente falar isso. Ele viveu aquilo, sabia que o jogador gostava. Ele ganhava o time, os jogadores atuavam para ele. O Gaúcho foi um cara sensacional – completou o ex-camisa 10.

Pedrinhas do Verdão e grupo loiro

Todas as conquistas têm suas peculiaridades e curiosidades que marcam e deixam histórias para contar. O bicampeonato teve dois episódios que aquele grupo não esquece, contadas pelo ex-treinador Oscar Conrado. Ambas valem o registro.

O antigo estádio Verdão tinha uma pista de atletismo com piso de pedrinhas, daqueles que qualquer um que puxar na memória vai se lembrar, seja qual for a cidade que esteja lendo. Pois bem, aqueles pequenos “pedregulhos” serviam para acordar o time.

– Estava na área técnica do Verdão, e às vezes estava muito irritado em ver o time relaxando, segurando, deixando o adversário crescer. Aí eu gritava, ficava sem voz e via que a gritaria não estava dando certo. O Verdão na época tinha aquelas britas da pista e eu as pegava e jogava neles para eles acordarem. Aí eles viam que eu estava indignado de verdade e isso funcionava A minha intermediação eram as pedrinhas. Depois do jogo eles riam comigo e falavam: “Pô professor, ainda bem que você nos despertou com as pedrinhas”. Eles viam de uma maneira positiva, o grupo aceitava as coisas. A gente se dava muito bem. Eles me respeitavam muito e sabiam que era para o bem de todos – contou Oscar.

O segundo episódio que ele não esquece foi a promessa feita pelo elenco em caso de classificação para a final do Mato-grossense.

– Eles falaram que se chegasse na finam iam descolorir o cabelo, pintar de loiro, né. Aí até os mais caretas e tímidos do elenco, que não queriam, tiveram que descolorir o cabelo. E fomos campeões com todos loirinhos em campo. Foi divertido, serviu para descontrair.

Time consolidado e fator Drebor

Em 2003, a empresa Drebor já era parceira do Cuiabá com patrocínio para ajudar no crescimento da equipe. Com o título em 2003, o projeto avançou e, junto dele, vieram mais investimentos para manter o Dourado forte.

– A Drebor já fazia parte desse processo, foi muito importante a chegada deles, acreditaram na gente. E eles também são fanáticos, compraram a ideia do Cuiabá, não mediram esforços, eles foram fundamentais nisso também. Não foi só jogadores, diretoria e comissão técnica. A Drebor foi fundamental no processo, injetaram dinheiro, iam na sede, participavam do dia a dia. Nunca viraram as costas. Foi essa somatória de tudo isso que deu esse resultado. Foi muito legal – comemorou Oscar Conrado.

– No primeiro ano, o Gaúcho colocou muito dinheiro do bolso, mesmo com os pais ajudando. Tinham muitos pais de alunos que ajudavam no início do Cuiabá, eram grandes empresários e acreditavam no projeto, confiavam no Gaúcho. Isso foi fundamental. Eu até falo que o primeiro o título foi um susto. Não estávamos preparados para ser campeão e sim preparado para representar bem, o nome Cuiabá é forte. Aí veio a Drebor e começamos a melhorar a logística de treinamento, alimentação, fez um time mais competitivo – completou Osvaldo Júnior.

A viúva Inês Galvão fez coro à importância da Drebor na história do Cuiabá, o que perdura até os dias atuais.

– O Gaúcho investiu muita coisa, até que apareceu a Drebor, para equilibrar o financeiro e conseguiram contratar mais jogadores, dar uma condição melhor para os meninos. Melhorou os alojamentos. A entrada deles foi muito positiva, fundamental para a história do clube. O Manoel Dresch participava, eles iam atrás do time, torciam muito, com boas energias. Era um clima muito bom e familiar. E hoje a Drebor continua levando da mesma maneira. Com o mesmo empenho – disse Inês.

A família Dresch, dona da Drebor, esteve sempre presente na vida do Cuiabá. Desde 2003, ano do primeiro título, a família toda, em especial os irmãos Manoel, Aron e Neri (in memorian) adotaram o Dourado como time do coração, o que transcendia apenas um patrocínio a um clube.

– No primeiro ano, o Oscar trouxe os jogadores que se encaixavam dentro da realidade financeira. Eram jogadores do interior, locais. Aí no ano seguinte já conseguimos trazer atletas mais renomados. Às vezes, por exemplo, a gente viajava no mesmo dia para os jogos. Em 2004, já íamos um dia antes. O segundo título o clube estava mais organizado, com mais suporte. A gente fez as coisas organizadas dentro do nosso limite. Tenhamos uma organização boa e muito em função da Drebor. O diferencial foi a Drebor nos dar essa sustentação. O nível de preparação para o segundo ano, a logística de tudo no segundo ano, foi muito melhor – finalizou Júnior.

Nos próximos capítulos da série “Cuiabá 20 Anos”, saiba mais como a empresa comprou o clube desativado e recolocou no caminho das conquistas.

A campanha do bi
29 jogos
14 vitórias
10 empates
5 derrotas
49 gols marcados
29 gols sofridos

Time base: Rocha; Filhão (Everton), Léo, Maurício Canhão e Erivaldo; Ataliba, Giovani (Elias), Paulo Vinícius e Robinho; Ricardo Boiadeiro (Buiú) e Bibiu. Técnico: Oscar Conrado.

A ERA DREBOR

A ERA DREBOR
31 de maio de 2009. Com as ruas de Cuiabá tomadas pelo verde e amarelo, a capital mato-grossense era oficialmente escolhida pela FIFA como uma das 12 sedes da Copa do Mundo 2014. O momento foi de festa em Mato Grosso, sedento por receber um dos maiores eventos esportivos do mundo.
 

No escritório da empresa Drebor, os irmãos empresários Manoel, Aron e Neri Dresch ficam animados com a vinda do Mundial na cidade onde vivem e despertam o interesse em possuírem um clube de futebol. Uma boa tática para expandir os investimentos no estado.

Mas antes de contarmos a história da compra do Cuiabá pela família Dresch, é preciso voltar lá atrás, em 2003, ano em que a Drebor inicia a trajetória no futebol mato-grossense ao patrocinar o Cuiabá e cravar de vez o nome da empresa no cenário nacional.

Apaixonados por futebol e bem-sucedidos, os irmãos decidem investir no futebol. Com a empresa Drebor, indústria de matéria-prima para recapagem de pneus, em franca expansão, os empresários viram no futebol a chance de aumentar a exposição da marca e ajudar a fomentar o futebol local.

– Na época queríamos divulgar a marca da Drebor e o mais vantajoso para nós era o futebol. Me apresentaram o Gaúcho e tivemos a ideia de patrocinar o Cuiabá. A gente é apaixonado por futebol. Nos domingos de manhã era a nossa diversão ir ao campo ver o futebol – disse Manoel Dresch.

– Sempre gostamos de futebol, a Drebor tinha um time que jogava o campeonato do Sesi bem antes de 2003. A gente participava de campeonatos empresariais e o futebol sempre esteve muito presente nas nossas vidas – disse Cristiano Dresch, filho de Manoel e vice-presidente do Cuiabá.


A família Dresch chegou em Mato Grosso na década de 80 e montou uma pequena recapadora de pneus em Cuiabá. Cerca de 20 anos depois, já com a empresa Drebor, consolidada financeiramente, iniciaram o patrocínio ao Cuiabá Esporte Clube que naquele ano, em 2003, tinha apenas dois anos de vida.

– A empresa LG entrou no Brasil pelo São Paulo e aí me surgiu essa ideia. Hoje a Drebor é conhecida no Brasil inteiro – cravou Manoel.

– O patrocínio surgiu, pois, um amigo do Gaúcho (fundador do Cuiabá), era amigo do meu pai e apresentou os dois. Ele trouxe essa ideia de patrocínio. Foi tudo muito rápido, logo o Cuiabá já teve a Drebor como patrocinadora oficial – completou Cristiano.

Nos dois primeiros anos de parceria, vieram logo dois títulos estaduais, além da disputa da Copa do Brasil e Série C do Brasileiro. O sucesso foi imediato. Em 2005, a parceria acabou sendo desfeita por divergências internas. Mas nada que abalasse a grande amizade entre a família Dresch e o ex-jogador Gaúcho, fundador do Cuiabá.



2009 e a compra do clube


Licenciado desde 2006, o Cuiabá estava praticamente parado até a família Dresch comprar o clube. Como já relatado, a vinda da Copa do Mundo para a capital mato-grossense foi o propulsor e o incentivo que faltavam para Manoel, Aron e Neri investirem no negócio.

– Entramos como patrocinadores em 2003, mas saímos em 2005. Uns anos depois me ofereceram para comprar o Cuiabá. A porcentagem que o Gaúcho tinha do clube nos foi cedida e após entrarmos de vez no negócio compramos o restante dos irmãos Neponuceno, que também eram donos – afirmou Manoel, que completou.

– Quando vimos que Cuiabá ia ser sede da Copa do Mundo, ficamos entusiasmados. Imagina só ter um estádio como é a Arena Pantanal à disposição da cidade e podendo ter times nas disputas nacionais. Fomos movidos pela paixão e as coisas foram acontecendo.

A viúva de Gaúcho, Inês Galvão, lembrou com carinho desse período e relatou como o então dono do Cuiabá ficou satisfeito com o negócio.

– Quando o Gaúcho passou o clube para o Manoel, ele passou tranquilo e feliz pois sabia que a família amava o time e cuidaria muito bem. O Gaúcho adorava o Manoel, ele também sempre foi um cara muito bacana e decente com o Gaúcho, tenho muito boa lembrança da família deles. Sempre receberam a gente com muito carinho. O Gaúcho gostava muito deles. O Cuiabá não podia estar em melhores mãos – disse Inês.

O vice-presidente Cristiano Dresch recordou como foi a reaproximação entre a Drebor e o Cuiabá, algo que começou pouco antes de Mato Grosso ser escolhido como sede do Mundial.

– O Cuiabá disputou a Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2009 e eles nos procuraram para ajudar com patrocínio. Me lembro que ajudamos com uma quantia e criamos essa relação com eles novamente – relatou.

Com a compra do clube finalizada, o Cuiabá passou a se preocupar em montar um time e disputar a Segunda Divisão do Campeonato Mato-grossense de 2009, que naquele ano tinha os tradicionais Mixto e Operário na disputa.

O grupo

A primeira medida da nova diretoria, e ainda com apoio de Neto Neponuceno, um dos fundadores do clube, foi manter o treinador Carlos Henrique Pedroso, o Mosca, que havia comandado o jovem time na Copa São Paulo de Futebol Júnior no início de 2009.

O Dourado apostou em um time de jogadores locais, com atletas que vinham se destacando na disputa dos estaduais como o goleiro Ernandes Pantaneiro, o zagueiro Ataliba, os volantes Jamba e Jackson, o meia Robinho e o atacante Moreno.



– Me lembro que em 2009, que foi o retorno do Cuiabá, recebi a proposta de ajudar o clube. O Willian e o Neto (Neponucemo) foram atrás de mim em Rondonópolis, pois estava no Vila Aurora. Falaram que o Cuiabá tinha um projeto ambicioso, de chegar na Série B, Série A do Brasileiro e ia montar um time forte para voltar à elite do estadual primeiramente – disse o ídolo Moreno, que completou:

– Em um primeiro momento pegou um time caseiro, mas experiente. Eu, Robinho, Ataliba, vários jogadores que estavam nos clubes para montar uma base. E junto de jovens que estavam se destacando no estado.

Primeiros passos

Além da montagem do grupo, era preciso estruturar o clube com a parte física também, como alojamento para os atletas, local de treinamento, escritório, entre outros. O começo não foi dos mais fáceis, mas o projeto consolidado foi sendo colocado em prática dia após dia.

– O time recomeçou quase sem nada de estrutura, mas já correndo atrás. Tanto que no mesmo ano o presidente Aron comprou o hotel onde o Cuiabá está até hoje. Foi tudo muito rápido e quando conquistou o acesso, comprou o hotel e começamos a Copa Mato Grosso já forte e estruturado. Assim que conquistou o acesso, começaram os investimentos – relembrou Moreno.

Bem no começo, o Dourado usou o CT do Gaúcho, no bairro Coophema, como local de treinamento em mais um fruto da eterna parceria com o ex-atacante e principal figura da história do Cuiabá.

– Me lembro que usamos um pouco a Escolinha do Gaúcho também. Quando cheguei em Cuiabá nem hotel eu fiquei, fiquei na escolinha mesmo, tinha uns quartos lá na escolinha. O Cuiabá começou o trabalho naquele CT do Gaúcho, no Coophema, a gente treinava ali e fazia academia por ali mesmo no bairro. E o Aron alugava a casa para os atletas morarem naquele bairro. Na pré-temporada, a gente ia para essa casa e almoçava marmitex – completou Moreno.

Pouco depois da disputa da Segunda Divisão do Campeonato Mato-grossense, o Cuiabá comprou a sede do então hotel Sinhá Maria, no Distrito Industrial, para ser o CT do Dourado, local em que permanece até hoje.



Com o grupo montado, era hora de realizar testes antes da disputa da Segunda Divisão do Mato-grossense. E foi em grande estilo, com a partida diante da Seleção Brasileira sub-20 em amistoso, no antigo Estádio Verdão, no dia 18 de junho.

O Brasil se preparava para o Mundial Sub-20, que foi realizado no Egito. A derrota por 4 a 2 não tirou o foco na preparação para o retorno à elite estadual. Acostumado a disputar e vencer decisões, o Dourado voltou para não parar nunca mais.

– Lembro desse jogo da seleção sub-20, no Verdão. A gente estava em formação e era arriscado, com o nosso time em formação contra uma seleção. Não sabia como iríamos suportar um jogo desse, mesmo com eles sendo garotos, mas era a seleção. Mas criamos boas chances que nos deu confiança para seguir o trabalho – disse o ex-goleiro Ernandes Pantaneiro.

A ficha do jogo histórico

Cuiabá 2 x 4 Brasil Sub-20 
Estádio Governador José Fragelli, o Verdão, em Cuiabá (MT)
Data: 18/06/2009 – Público: Portões abertos
Árbitro: Edilson Ramos da Mata
Gols: Maylson 20, Ciro 33, Erick Flores 40, Jackson 46 do 1º tempo (Brasil Sub-20); Wellington Junior 32 e Daniel 46 do segundo 2º tempo (Cuiabá)

Cuiabá: Ernandes Pantaneiro; Diego Banana, Thiago, Elizeu e Daniel; Marabá (Jonathan), Jamba, Gugu (Eduardo) e Leandrinho (Wellington); Jackson (Germilly) e Moreno. Técnico: Carlos Henrique Pedroso.

Brasil Sub-20: Agenor (Rafael depois Saulo); Fagner, Dalton, Rafael Tolói e Diogo; Tinga, Maylson, Erick Flores e Alex Teixeira; Allan Kardec e Ciro. Técnico: Rogério Lourenço.



A Segunda Divisão do Mato-grossense

A meta da diretoria era bem clara: conquistar o título da Segunda Divisão do Mato-grossense ou, ao menos, o acesso para a elite do Estadual. Reativado, o Dourado precisava manter a escrita de predestinado, mas acabou batendo na trave com o vice-campeonato. O objetivo, porém, foi alcançado.

– Recomeçamos na segunda divisão e fizemos um primeiro turno ruim com o Mosca. Aí trocamos o treinador e trouxemos o Valter Ferreira e junto dele um monte de novos jogadores. Foi um campeonato muito difícil, tinha o Mixto com muito dinheiro da AFAM, o Operário que tem tradição, então foi complicado – disse Cristiano Dresch.

– Foi muito bom fazer parte da reconstrução do time, foi montado uma equipe caseira para começar a Segundona, aí não deu muito certo, veio o Valter Ferreira e com ele uns 11 jogadores. O time melhorou e começamos a engrenar de novo – confirmou Robinho.

– Lembro que foi uma equipe muita coesa, caseira, todos lutavam bastante, começamos mal a competição e depois equilibramos, foi avançando e um jogo que marcou foi contra o Mixto, que tinha sido o campeão do primeiro turno e já estava com o acesso garantido. Vencemos eles por 2 a 1, no Dutrinha e dali foi a arrancada para ser campeão do returno – completou Ernandes Pantaneiro.

Depois de fechar o primeiro turno em quarto lugar, com sete pontos em cinco jogos, e trocar a comissão técnica restando uma rodada para o término da primeira fase, o Dourado foi para o segundo turno disposto a mudar o panorama.

– O começo do campeonato foi difícil, eram times mais fortes que a gente. Tinha o Operário, o Mixto com um time forte. Era uma Segunda Divisão muito difícil, só tinham duas vagas e os times vieram mais preparados que nós. Começamos o campeonato mal, bem mal mesmo no início. Ganhamos do Operário logo de cara no Verdão, um clássico, mas depois, já perdemos para o Mixto, Cacerense e ficamos em uma situação com o Mixto na liderança, o Operário em segundo e nós estávamos em quarto – disse Moreno.

O clube começou o returno com derrota para o Cacerense e tudo parecia que seria perdido. Mas honrando a tradição, o Dourado foi vencendo as partidas e conquistou o título simbólico do segundo turno, a vaga na final da competição e o principal: o acesso à elite do Mato-grossense.

Para isso, venceu os últimos quatro jogos do segundo turno batendo Operário, Mixto, Tangará e Alta Floresta.

– Embalamos nesta reta final e o acesso foi garantido com a vitória sobre o Alta Floresta. Foi um momento complicado, pois precisávamos ganhar todos os jogos para não depender de ninguém. No fim, o trabalho deu certo e conquistamos o acesso – disse Neto Neponucemo.

Classificado para a final contra o Mixto, campeão do primeiro turno, era hora de tentar o primeiro título da “Era Drebor” e logo no primeiro campeonato em disputa.



No jogo de ida, empate em 2 a 2. Na volta, nova igualdade por 1 a 1 e a decisão foi para as penalidades máximas e com vitória do rival por 5 a 3. Apesar de não ter conquistado o título, a campanha que levou ao acesso deu confiança ao clube que recomeçava sua trajetória com mais uma conquista.

– Fui decisivo em vários jogos. Estávamos em uma situação de vencer quatro partidas seguidas para buscar o acesso. E reagimos. No segundo turno, contra o Operário, se a gente empatasse a gente estava quase fora. Aí eu marquei o gol da vitória no final. Depois ganhamos do Mixto, do Alta Floresta, Cacerense e conquistamos a classificação. Os dois primeiros iam para a final. Essa arrancada na final foi decisiva. Aí fizemos a final com o Mixto e acabamos perdendo nos pênaltis. Foi muito difícil a Segunda Divisão, mas o Cuiabá sempre teve estrela, sempre foi vitorioso. Colocamos na cabeça que tínhamos que vencer cinco partidas e conseguimos chegar na final e garantir o acesso – recordou Moreno, que fechou a competição como artilheiro.

Ainda em 2009, o Cuiabá disputou a Copa Mato Grosso e também chegou na final, mas acabou sendo derrotado para o Vila Aurora por 1 a 0, no último jogo da história do antigo Verdão. Depois daquela partida, ele foi demolido para a construção da Arena Pantanal.

– Foi complicado perder aquele título. Nossa meta era disputar a Série D no ano seguinte, que seria o primeiro ano de disputa dela. A final contra o Vila Aurora a gente contava como ganha, pois empatamos contra eles lá em Rondonópolis. Foi o último jogo oficial do Verdão, mas não ficamos com a taça. Foi difícil, mas sabíamos que o trabalho iria continuar mesmo sem o título – finalizou Cristiano.

O PRIMEIRO TÍTULO DA ERA DREBOR

O PRIMEIRO TÍTULO DA ERA DREBOR

O ano de 2010 marcou a grande virada na história do Cuiabá. Foi nele que o clube conquistou o primeiro título desde a reativação um ano antes. E você vai entender a importância dele neste episódio fundamental para compreender como o Cuiabá chegou aonde está hoje, na Série A do Brasileiro.

Em 2009, o Dourado voltou às atividades sob o comando da família Dresch e chegou nas duas finais que disputou: Série B do Mato-grossense e Copa Governador. Apesar da derrota e frustração, a diretoria sabia que o ano seguinte era promissor.

O começo de 2010, porém, não foi de acordo com as expectativas, mesmo com a melhoria na estrutura do clube e montagem de um elenco com mais investimento.

O então treinador Valter Ferreira foi desligado em meio às finais da Copa Governador de 2009. No início de 2010, o Dourado buscou Ary Marques, ex-lateral-direito do Paraná e que comandava um time amador na capital paranaense. Foi com ele que o clube buscou uma nova reconstrução e voltou ao caminho dos títulos, como sempre foi na história do Dourado.

– Foi um convite do Cristiano (Dresch), alguém de Curitiba me indicou, pois a família Dresch já morou na cidade. Eu tive ótimas campanhas no Paraná sub-20, ganhando títulos, mas naquele momento estava parado, treinando um time amador. Em Curitiba tem um torneio muito forte. O Cristiano viajou para me encontrar, ele e o Neto Neponucemo. Foi quando o convite para eu treinar o Cuiabá foi oficializado – disse Ary Marques.

– Quando ele fez a proposta eu fui pesquisar sobre o clube e vi que era um time que ainda estava recomeçando e em Mato Grosso tinham times mais fortes naquele momento. Mas o Cristiano me convenceu a aceitar o projeto e fui para Cuiabá. Me lembro que fui na Drebor para conversar com o Manoel Dresch (pai de Cristiano e um dos donos da Drebor), a proposta foi até melhorada e resolvi aceitar o desafio – completou Marques.

Veio o Campeonato Mato-grossense e o Dourado fez uma campanha irregular. Mesmo assim chegou na última rodada com chances de classificação à próxima fase. O duelo foi contra o Operário, no Dutrinha e que contou com um detalhe curioso

– O jogo começou em uma quarta-feira à tarde, mas só terminou na quinta-feira por conta das chuvas e o estado do gramado do Dutrinha. No fim, perdemos por 2 a 1 e deixamos a vaga escapar – relembrou Ary.

Com 21 pontos, o Dourado viu o adversário chegar aos 22 e garantir a classificação. Sem calendário no segundo semestre, já que havia uma indefinição sobre a disputa da Copa Governador, o Dourado passou por momentos complicados naquele período.

– Não fomos bem no Estadual e veio a dúvida sobre o futuro do Cuiabá. Eram dois vice-campeonatos no ano anterior e a decepção no Mato-grossense. Meu pai (Manoel) acabou desanimando e essa dúvida passou a ser constante se era viável continuar com o clube. Para piorar, a Copa Governador não tinha sido oficializada se iria mesmo acontecer. Então ficaríamos quase um ano parado – disse Cristiano.

– Sempre pensa né (em fechar o clube), quando perdeu vem aquela dúvida se devíamos continuar. Os meus filhos (Alessandro e Cristiano) sempre ajudaram muito e foram mantendo, principalmente o Cristiano que abraçou a ideia desde o início – relembrou Manoel Dresch.

Sem uma definição e no aguardo da FMF (Federação Matogrossense de Futebol), o Cuiabá resolveu apostar na manutenção do projeto com o apoio e confiança de uma pessoa muito especial na família.

– Nesse período quando meu pai desanimou, minha tia Neri me deu suporte e apoio, falando que confiava no nosso trabalho. Nessa época eu já estava totalmente envolvido com o Cuiabá, não trabalhava mais na Drebor. E ela estava bem animada e sabia que iríamos precisar de dinheiro. Eu conversava muito com minha tia e ela começou a acreditar. Falou que iria ajudar e manter o projeto em pé. Ela foi muito importante nessa fase – disse Cristiano.

Infelizmente, Maria Neri faleceu em um acidente pouco antes do acesso do Cuiabá para a Série C, mas esse fato trágico falaremos em outro momento da série “Cuiabá 20 anos”.

Troca do escudo

Entre o fim do Campeonato Mato-grossense e o início da Copa Governador 2010, a diretoria do Cuiabá decidiu trocar o escudo que vinha sendo usado desde a fundação, em 2001.

A ideia foi dar uma nova roupagem e identidade ao clube, que um ano antes havia sido adquirido pela família Drebor.

O primeiro escudo do Cuiabá foi pensado com duas características: ter o Centro Geodésico da América do Sul e as cores da bandeira de Cuiabá. No novo, eles foram levados em conta como conta o vice-presidente Cristiano Dresch.

– Jogamos o estadual de 2010 com o escudo antigo, aí eu dei a ideia e mudamos, para marcar a nova fase do clube. Optamos por manter o Marco Geodésico, uma característica importante, mas o principal era ter o nome Cuiabá aparecendo bem grande e sem tantas cores. Antes, ele era escrito em vermelho – disse.

Outro ponto importante na elaboração foi colocar o ano de fundação do clube.

– Contratamos uma empresa e eles fizeram um modelo que foi logo aprovado. O Cuiabá vinha sendo chamado de CEC (Cuiabá Esporte Clube) e queríamos marcar o nome Cuiabá somente. Foi daí que o nome aparece de forma marcante no novo escudo.

Da indefinição ao título

Passada a eliminação no Mato-grossense e a indefinição sobre o futuro do clube, o Dourado precisou aguardar um posicionamento da FMF, mas confiante que o torneio seria disputado.

O time foi praticamente desfeito, o treinador Ary Marques voltou para Curitiba enquanto esperava um posicionamento oficial. Somente seis jogadores foram mantidos da campanha do estadual.

– Cheguei a ter propostas de outros clubes naquele período, mas queria terminar meu trabalho no Cuiabá e tinha que fazer alguma coisa. Fiquei uns dois a três meses em casa, mas sempre em contato com a diretoria. Quando veio a definição, ali por agosto, eu voltei para Cuiabá e montamos o time que viria a ser campeão. E de forma invicta – analisou Ary.

Já como vice-presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch também relembrou sobre como foram aqueles meses de quase inatividade do Dourado.

– Ficamos treinando com somente seis jogadores por três meses e quando confirmou o campeonato, nós reforçamos o time. Me lembro que tínhamos o volante Jean e mais cinco jogadores. Quando confirmou a Copinha, aí o Ary voltou e treinamos por dois meses ainda. Aí eu já estava totalmente envolvido com o clube e começamos a trazer jogadores como o Bogé, do Luverdense, o Paulinho Marília, o Ferraz, entre outros. Montamos um time forte e bem nessa época também, passamos a treinar no campo do Sesc Balneário, onde ficamos por uns dois anos. Fizemos alguns amistosos nesse período e chegamos muito preparados para a competição – relatou Cristiano.

A Copa Governador começou em outubro de 2010, e o Dourado era disparado o time melhor preparado fisicamente. A qualidade técnica também sobressaiu.

– Era um grupo jovem, mesclado com experiência. O elenco se dava muito bem, o professor Ary Marques conduziu nosso elenco perfeitamente. Ele sabia como nunca mexer com o brio dos jogadores. Era um grupo muito unido e forte. A gente ia para os jogos confiantes na vitória, tanto que já combinávamos o que fazer após os jogos. Atuávamos leves e tranquilos, tanto que o Ary nem brigava conosco no intervalo – recordou o volante Bogé.

O treinador Ary Marques falou sobre como buscava motivar os atletas durante os treinamentos e, principalmente, unir ainda mais o grupo em busca do objetivo.

– Levávamos eles no shopping, pagava pizza, levava eles para jantar. Nos treinos, a gente fazia mini torneios com sete a oito jogadores e eu montava as equipes. E tinha uma panela né. E quem ganhava eu levava para jantar e com isso fui ganhando o grupo. Foi uma tacada importante. Começamos a fazer um grupo. Os cuiabanos eram indecisos não tinham muita confiança no futebol deles, mas depois pegaram esse espírito – lembrou Ary.

Conquistar o título da Copa Governador era o grande objetivo da diretoria, quase que uma obrigação para que um novo desânimo não abatesse o projeto.

– Quando ganhamos a Copinha, motivou a todos para entrar no Estadual diferente. Então a Copinha foi fundamental para a história do Cuiabá. Se perde aquele torneio, até meu ciclo teria terminado no clube. Mas deu tudo certo e ganhamos de forma invicta contra o Operário – completou Ary.

A campanha foi irretocável e premiou o time que melhor se preparou antes da competição. Foram quatro vitórias e quatro empates, ou seja, de forma invicta.

– Depois do Estadual, o elenco foi bem reforçado, era um time forte, com jogadores fortes em todas as posições. Eu marquei gols importantes e fico muito honrado de ter ajudado o clube naquele período. Com aquele título, tivemos a certeza que o Cuiabá iria chegar longe mesmo – relembrou o atacante Moreno.

Na semifinal, o Dourado eliminou o Luverdense nos pênaltis e na grande final venceu as duas partidas contra o Operário (Ltda, pois o Operário Várzea-grandense estava inativo). A primeira por 3 a 1. Na decisão, novo triunfo, agora por 2 a 1, com gol de Alex Mineiro e um contra marcado pelo adversário.

– Não tínhamos muita experiência no Mato-grossense de 2010 e fomos nos preparando dia a dia para melhorar. O título da Copa Governador foi a grande virada do clube. Se não ganhássemos essa taça, as coisas poderiam desandar e até fechar o projeto. Mas quando ganhamos, e ainda mais de forma invicta, foi o propulsor que precisávamos para seguir em frente e com ainda mais gás – disse Cristiano.

Dali em diante, o clube iniciou a trajetória de títulos, conquistas e glórias que o levou à Série A 2021.

– A escolha do mascote pelo Dourado foi uma felicidade grande do Gaúcho. O Dourado é brigador, não desiste, tem muita fé. Por isso acho que o Cuiabá está onde está. Muita luta, muito trabalho – finalizou Manoel Dresch.

Ficha técnica da final

Operário Ltda 1×2 Cuiabá
Copa Governador de Mato Grosso
28/11/2010 – Estádio Presidente Dutra – Cuiabá-MT
Árbitro: Wagner Reway
Gols: Alex Mineiro 12’/1T e Euclides (contra) 38’/2T (Cuiabá); Odil 30’/2T (Operário-Ltda)

Operário Ltda: Heverton Perereca; Eder Belém (Bento), Diego, Kal e Natanael (Paulinho); Jamba, Lê, Euclides, Tito, Odil e Jeanzinho (Celinho). Técnico: Eder Taques.

Cuiabá: Veloso; Marquinhos, Reinaldo, Alex Mineiro e Natan; Bruno Marques, Mauro (João Cleber), Bogé e Paulinho Marília (João Lennon); Ferraz e Paulo Sérgio (Moreno). Técnico: Ary Marques.




Jogos do Cuiabá na competição:

Primeira fase
Data: 27/10/2010 – Vila Aurora 0x3 Cuiabá
Data: 30/10/2020 – Cuiabá 1×1 Rondonópolis EC
Data: 04/11/2021 – EC Rondonópolis 1×4 Cuiabá
Data: 07/11/2010 – Cuiabá 2×2 Vila Aurora

Semifinais
Data: 14/11/2010 – Cuiabá 1×1 Luverdense
Data: 18/11/2010 – Luverdense 0x0 Cuiabá (5×3 nos pênaltis)

Finais
Data: 21/11/2010 – Cuiabá 3×1 Operário Ltda
Data: 28/11/2010 – Operário Ltda 1×2 Cuiabá



O ACESSO À SÉRIE C DO BRASILEIRO

O ACESSO À SÉRIE C DO BRASILEIRO

O ano de 2011 é um dos mais marcantes e importantes na história do Cuiabá. Duas temporadas depois de ser reativado, o predestinado Dourado já conquistou o acesso à Série C do Brasileiro com uma campanha irretocável e sem deixar dúvidas de que o projeto da família Dresch estava, de fato, no caminho das conquistas.

Mas antes de conquistar a tão sonhada ascensão de divisão nacional, o Dourado precisava garantir presença na Série D do Brasileiro. Para isso, somente o título do Campeonato Mato-grossense seria capaz de levar o Cuiabá à Quarta Divisão do Brasileiro.

Mais experiente na gestão do futebol, os dirigentes da família Dresch entenderam que era preciso melhorar o time, investir na estrutura e trazer atletas com mais “casca” para chegar ao objetivo.

– Nossa meta sempre foi disputar os torneios nacionais. A conquista da Copa Governador em 2010 nos garantiu presença na Copa do Brasil, mas queríamos mais. A meta mesmo era o Campeonato Brasileiro. Para isso, vimos que era preciso montar um elenco forte, aumentar a folha salarial e dar mais condições ao grupo – disse o vice-presidente Cristiano Dresch.

Dito e feito. O time melhorou a estrutura como um todo e contratou jogadores de qualidade como o ídolo Fernando, o lateral Natanael e o meia Calado, além de manter os destaques do título da Copa Governador no ano anterior, como o zagueiro Reinaldo e o atacante Moreno.

– Logo que cheguei, era ainda um pouco precário. Eles tinham recém-comprado o hotel onde fica a sede do clube até hoje. Eu fiquei morando no hotel, mesmo tendo um apartamento à disposição. Queria estar perto para pode estruturar tudo, ficar perto dos atletas. Foi um período legal pois pude vivenciar totalmente o clube no dia a dia. Com o título da Copa Governador, foi o motivador para começar o Estadual diferente – disse o treinador Ary Marques.

Com rápido entrosamento, o Dourado foi tomando corpo ao longo do Mato-grossense 2011 e fechou a primeira fase em segundo lugar, com 16 pontos. Foram quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas, com 21 gols marcados e 13 sofridos.

Na segunda fase, eliminou o Rondonópolis e o União até chegar à final contra o Barra do Garças.

– Cheguei ao Cuiabá em 2011 com o elenco sendo formado, mas o encaixe foi muito bom. Eu conhecia alguns jogadores e tive uma adaptação rápida e fácil. Sempre procurei dar o meu melhor e por essa maturidade de buscar sempre o melhor, consegui deixar meu nome na história do Cuiabá. Foram títulos, artilharia, acessos, graças a Deus tudo que eu passei no Cuiabá foram coisas boas. Tudo sempre foi maravilhoso. Só agradeço ao Cuiabá pela oportunidade que tive de vestir essa camisa – disse o ídolo Fernando, maior artilheiro da história do clube com 55 gols.



Na decisão, vitória por 3 a 1 em Barra do Garças no jogo de ida e empate por 1 a no jogo da volta. O Cuiabá teve também o artilheiro da competição: Fernando, com 12 gols. Foi também o melhor ataque, com 34 gols. Título garantido e, mais do que isso, a vaga carimbada para a Série D do Brasileiro.

– Era um grupo muito bom para trabalhar. A união e foco eram grandes. Me lembro que teve um episódio bacana. O Natanael (lateral-esquerdo) tinha um carro velho e os pneus estavam todos carecas. Nem sei como andava ainda. E eu falei que se a gente fosse campeão eu compraria quatro pneus novos para ele. Disse isso no começo do campeonato. No fim, não deu outra, ele voltou para casa com pneus novinhos. Paguei com gosto – relembrou Ary Marques.

Pré-temporada em MG, Dutrinha e time embalado 

Passada a euforia da conquista, o desafio do Dourado era reforçar ainda mais o time e preparar toda a logística para a disputa da competição nacional. Afinal, o clube era estreante no torneio e tudo ainda era relativamente novo para a diretoria, liderada pelo vice-presidente Cristiano Dresch.

– Sabíamos que seria uma competição difícil, era nossa primeira disputa de Série D. E por isso a preparação teria que ser muito boa. Nosso primeiro jogo foi em Itacoatiara, interior do Amazonas, contra o Penarol. Um mês antes desse jogo eu e o preparador físico Alexandre Schmidlim embarcamos para lá para conhecer a cidade, escolher um hotel, definir a logística. Estávamos muito focados para a Série D. Me lembro que assistimos a final do Amazonense e o Penarol foi campeão. Ali começamos a traçar nossa trajetória na competição – disse Cristiano Dresch.

A logística de viagens, inclusive, era um dos desafios do clube que à época não contava com o aporte da CBF no custeio de passagens e hospedagem, como lembra o técnico Ary Marques.

– Todo jogo era uma dificuldade, pois era tudo pago pelos clubes. E por conta de custos, a gente geralmente viajava sempre de madrugada, chegávamos cansados. As voltas para Cuiabá também quase sempre eram de madrugada, às vezes eram horas esperando o voo ou conexão. Isso marcou muito, pois tínhamos que passar por cima disso para manter o foco nas vitórias – relembrou Ary.

Com a logística definida, a direção e a comissão técnica decidiram realizar uma intertemporada fora de Mato Grosso logo após o título do Estadual. Com isso, o treinador Ary Marques aproveitou a amizade que tem com o então comandante do Cruzeiro na época.

– Foi muito importante o que aconteceu entre o título do Mato-grossense e o início da Série D quando fomos para Belo Horizonte fazer a pré-temporada. O Cuca é meu amigo e estava no comando do Cruzeiro e ele nos deu a oportunidade de treinar na Toca da Raposa. Ficamos cerca de duas semanas lá. Isso fez toda a diferença, pois pudemos trabalhar bem – disse Ary Marques.

Naquele período, o Dourado realizou amistosos contra o próprio Cruzeiro, além do Boa Esporte, o que deu mais bagagem para o time entrar na Série D. Logo na estreia da competição nacional, venceu o Penarol-AM por 2 a 1, fora de casa, já dando indícios de que seria uma competição promissora.

– Foi a forma que a diretoria e jogadores que tivemos um entendimento que seria muito importante essa conquista, o primeiro acesso para o Estado e que as portas se abririam ainda mais para o Cuiabá. Clube que sempre trabalhou com seriedade e conseguimos o objetivo. A diretoria investiu bastante, fizemos a pré-temporada em MG, deram todo o suporte extra-campo, salário em dia, premiações, tudo isso foi importante e fundamental. Sabemos que a dificuldade no futebol mato-grossense é muito grande e quando se encontra uma equipe disposta a colaborar e unir forçar com jogadores, as coisas tendem a dar certo. E o Cuiabá sempre buscou isso – relatou Fernando.

Na primeira fase da Série D, o Dourado foi o líder do grupo com 16 pontos em oito jogos – cinco vitórias, um empate e duas derrotas. Em meio à fase inicial, o time reforçou ainda mais o elenco com a contratação de atletas como o zagueiro Marcelo Bolacha e o volante Renan.

– Cheguei no Cuiabá em uma quarta-feira e no dia seguinte já viajamos para enfrentar o Nacional-AM pela penúltima rodada da primeira fase. E eu já fui titular, mas o entrosamento foi fácil, o grupo era bom, ambiente bom também. A adaptação foi rápida, estava acostumado com o calor. Rapidamente eu e Reinaldo formamos uma dupla muito boa na zaga – disse o zagueiro Marcelo Bolacha.

Uma das armas do Dourado para o sucesso na Série D foi, além da qualidade do elenco, o calor de Mato Grosso, o horário das partidas e o fator Dutrinha, o tradicional estádio de Cuiabá que naquele ano era a casa do Dourado já que a Arena Pantanal ainda estava sendo construída.



– Jogos chave foram os dentro de casa que a gente jogava no Dutrinha e tinha que fazer valer o mando de campo. Lembro que os adversários iam jogar contra nós e sentiam muito calor. Quando eu era capitão, eles iam conversar com o juiz e queriam fazer o tempo técnico, mas eu dizia que não, era nossa arma. No fim do jogo eles estavam cansados e a gente inteiros – falou Bolacha.

Sampaio favorito e luto na família 

Classificado para as oitavas de final, o Cuiabá enfrentou o Sampaio Corrêa-MA que até então era considerado o favorito para conquistar a vaga na fase seguinte. O primeiro jogo foi em São Luis, capital do Maranhão, e o resultado foi satisfatório apesar da derrota por 2 a 1.

– Foi um momento marcante na campanha. O Sampaio tinha um time qualificado. Eles abriram 2 a 0 ainda no primeiro tempo e estava um jogo difícil demais, mas me lembro bem que o Gatti e o Fernando foram fundamentais. Teve uma defesa do Gatti que foi importantíssima, pois ali eles abririam o 3 a 0 e aí ficaria muito difícil reverter. Pouco depois desse lance, o Fernando fez fila na zaga deles e sofreu o pênalti, que ele mesmo bateu e converteu. Com o 2 a 1 no placar, tivemos uma vantagem boa e conseguimos a vitória no Dutrinha e a vaga nas quartas de final – relembrou Cristiano.

No jogo da volta, no Dutrinha, o Cuiabá atropelou o Sampaio por 3 a 0, com dois gols de Tozin e um de Fernando.

– Contra o Sampaio eu me lembro bem, eles tinham um time muito forte, eram favoritos. Perdemos fora de casa, mas foi um resultado até bom. Aí preparamos bem durante a semana e no jogo da volta estava um calor forte, daqueles de Cuiabá mesmo, 42 graus, quente demais. Com 30 minutos do primeiro tempo, já abrimos 2 a 0, atropelamos eles. Não viram a cor da bola. Depois só mantemos – disse Moreno.

Classificado para as quartas de final e a uma fase do acesso, o adversário do Dourado era o Independente de Tucuruí, com o primeiro jogo disputado no Dutrinha. Embalado por ter eliminado o então favorito Sampaio Corrêa-MA, o Dourado venceu o time paraense por 2 a 0, com gols de Renan e Moreno.

Mas antes de abordamos esse duelo, é precisa lembrar com pesar a tragédia que aconteceu no mesmo dia da partida, pouco depois do Cuiabá entrar em campo. Quatro pessoas da família Dresch falecerem em um trágico acidente, entre elas Neri Dresch, irmã de Manoel e Aron, uma das fundadoras e principais entusiastas do clube.

– Foi um momento muito triste para a família. Mas tínhamos que seguir em frente. O jogo acabou às 17h e foi bem na hora do acidente. Aí ficamos sabendo só mais tarde, umas 21h. E uma semana depois tinha que viajar. Em 2010 quando meu pai desanimou, minha tia Neri me deu suporte. Então, ela estava bem envolvida. Conversava muito com ela, ela começou a acreditar e estava sempre presente – disse Cristiano.

– Foi triste demais, ela não perdia um jogo nosso. Mas eles se mantiveram forte, mesmo com essa tragédia. No outro dia, eles falaram que iriam continuar firmes e ir até o fim. E disseram que iríamos ganhar por ela, era o sonho dela ver o time subir e ser campeão. Eu sempre ia almoçar com o Manoel na Drebor e ela falava mais de futebol que eles. Sabia mais que eles. Ela perguntava tudo, era fanática. Muito legal relembrar isso – disse Ary Marques.



O sonhado e merecido acesso

Passado o luto da tragédia, o clube seguiu a semana com foco total na partida da volta contra o Independente, em Tucuruí, interior do Pará. Antes de falar mais sobre esse duelo que garantiu o Dourado na Série C do Brasileiro, vamos voltar na vitória pelo jogo de ida, no Dutrinha, nas palavras do ídolo Moreno.

– O primeiro jogo aqui no Dutrinha estava só 1 a 0 para nós, a partida estava bem difícil. Eles eram os atuais campeões estaduais, entraram fortes pelo acesso e só o 1 a 0 seria pouco para levar o jogo para lá. No intervalo, o Ary Marques me chamou e falou que o time estava cansando e que ele ia precisar de mim. Se continuasse daquele jeito, ia dar uns 10 minutos e eu ia entrar. E ele falou que precisava da minha ajuda, fazer pelo menos mais um gol para irmos com mais tranquilidade. Time deles era forte dentro de casa – relembrou Moreno.

– Aí nosso time estava oscilando na partida, a torcida começou a gritar meu nome e eu entrei e logo fiz o gol. Foi impressionante. Fiz a tabela com o Tozin, eu bati cruzado e vencemos por 2 a 0. Fomos para o Pará e conquistamos o sonhado acesso – comemorou Moreno.

Esse gol marcado pelo ex-atacante, inclusive, foi tão importante que até mesmo os adversários se renderam meses depois.

– Depois do acesso, quando o Cuiabá contratou dois jogadores do Independente (Wegno e Daniel Barros), eu estava na sala da diretoria para assinar minha renovação e encontrei com eles. E ambos falaram que aquele segundo gol praticamente matou a equipe deles. Tiveram que mudar a estratégia no Pará e não deu certo. Eles falaram que tinham um time que marcava muito bem e saia nos contra-ataques. E com o 2 a 0, o treinador colocou o time para frente e não estavam acostumados. E o Cuiabá foi muito bem no contra-ataque, a cada contra-ataque era um gol do Cuiabá – disse Moreno.



Com a vantagem, o Dourado embarcou para o Pará três dias antes da partida e podendo empatar para ascender à Série C do Brasileiro. Lembrando que o clube tinha apenas dois anos de ressurgimento – voltou às competições em 2009, após três anos parado.

– Quando cheguei, a gente tinha uma meta que era o acesso. Lembro que éramos bem unidos para isso. Dentro e fora de campo. O que marcou mais foi a união o que é difícil no meio do futebol. Todos brincavam, um ajudava o outro. A Série D é jogo para homem mesmo. É aquela história de tirar as crianças da sala que o bicho pega. Tem um bocado de coisas contra, campo ruim, logística de viagem. Vestiários sem condições de ter um time profissional para se trocar, fazer aquecimento. A Série D são muitos times também, e almejar algo no começo é difícil – relatou o ex-zagueiro Marcelo Bolacha.

Com a bola rolando, o Dourado abriu o placar no final da primeira etapa sempre pelos pés do ídolo Fernando, maior artilheiro da história do Dourado.

– Lembro que o time estava sempre bem focado, concentrado e confiante no acesso. A comissão técnica era muito parceira da gente. Aquele jogo tínhamos a vantagem de 2 a 0 em casa. Sabíamos da qualidade do Independente e fizemos nosso jogo. Pressionamos eles, e consegui no fim do primeiro tempo abrir o placar. No fim, vencemos por 4 a 2. Logo depois teve uma festa muito bonita, que marcou nossa história. Aquele é um jogo para se guardar na memória para sempre – disse Fernando.

Ao fim jogo, o time auriverde venceu por 4 a 2 com gols de Fernando, Marcelo Bolacha e Willian com placar agregado de 6 a 2 ao fim. Acesso garantido de forma incontestável.

– Tenho uma cena marcante em Tucuruí, estava 4 a 2 para nós e olhei no portão atrás do gol e o vice-presidente Cristiano pronto para pular no gramado, pendurado na cerca do campo. E eu falei para ele não pular, senão o árbitro poderia encher o saco. Aí acho que antes do apito final ele pulou e entrou em campo correndo, pulando, abraçando todos, um clima muito legal. Uma festa. Ali foi um sonho realizado. Foi um sonho disputar o Brasileiro e logo conquistar o acesso – afirmou Ary Marques.


– Entramos no vestiário, aquela festa do acesso, e na hora da reza eu tomei a palavra e falei: agora é o seguinte, agora vamos treinar só à tarde, só um turno e vamos só às 16h da tarde. Aí o vestiário foi ao delírio, todos rindo. Era o objetivo cumprido. O acesso já estava na mão. No fim, treinamos mais ainda pois ainda tinha a semifinal. Quero ver o Ary deixar ficar sem treinar. Ele é louco por treinos – relembrou Marcelo Bolacha.

No retorno para a capital de Mato Grosso, o elenco do Dourado foi recebido com muita festa no aeroporto pelos torcedores. Dali, o grupo ainda desfilou pelas ruas em um carro do Corpo de Bombeiros.

– Os clubes de Mato Grosso nunca tinham conquistado um acesso. Antes não tinha isso de Série D. E o Cuiabá foi e conquistou o acesso. Ficou marcado na história, foi o primeiro clube a conquistar o acesso. A torcida invadiu o aeroporto, ninguém esperava, estava o carro de bombeiros nos esperando, muita gente acompanhando. Foi um dia histórico, para nunca mais esquecer, com uma carreata, uma comemoração dessa, ser recebido dessa forma foi um dia inesquecível. E depois aquela festa no CT, com as famílias, shows, churrasco. Muito legal – finalizou Moreno.

Ficha Técnica
Independente-PA 2 x 4 Cuiabá
Local: Estádio Navegantão, em Tucuruí (PA)
Árbitro: Francisco Assis Almeida Filho (CE)
Cartões amarelos: Jean e Yuri (Cuiabá). Jean, Lima e Daniel (Independente)
Cartão vermelho: Rodolfo (Independente)
Gols: Fernando, aos 46’/1T, Marcelo Ramos, aos 15’/2T, Renan, aos 26’/2T e William, aos 48’ (Cuiabá). Daniel aos 2’/2T e Wegno, de pênalti, aos 40’/2T (Independente)

Cuiabá – Gatti; Marquinhos, Marcelo Ramos, Yuri (Douglas Henrique) e Natanael; César Romero, Jean (Tozin), Bojé e Fernando; Willian Kozlowiski e Edu Amparo (Renan). Técnico: Ary Marques.



O MILAGRE DO PANTANAL

O MILAGRE DO PANTANAL

Impossível. Improvável. Difícil…

Ao fim do primeiro jogo da final da Copa Verde 2015, essas palavras rondaram a cabeça dos torcedores do Cuiabá. Afinal, o time havia perdido por 4 a 1 para o Remo, no Mangueirão, e iria precisar de um milagre para reverter o placar e conquistar o título inédito para a galeria do Dourado. Eis que “O Milagre do Pantanal” aconteceu. De forma épica, incontestável, com a legítima valentia do Dourado.

A conquista da taça da Copa Verde pode ser considerada a mais emblemática na curta e vitoriosa história do Cuiabá. Foi o primeiro título nacional, o primeiro da história da Arena Pantanal e em um jogo considerado um dos mais marcantes dos 20 anos do clube pela superação e com uma virada eletrizante que deixou marcas eternas para jogadores, comissão técnica e torcida.

– Muitas pessoas ainda comentam sobre esse jogo quando me encontram. Foi uma das viradas mais impressionantes da história. E foi mesmo. O Milagre do Pantanal. O narrador da transmissão mesmo ficou emocionado, foi um dia mágico, épico, foi com muito trabalho e suor essa conquista. O Cuiabá merece – disse Fernando Marchiori, treinador daquele time.

O 4 a 1 na ida

Até chegar na decisão, o Cuiabá havia levado apenas dois gols em seis jogos na Copa Verde 2015. O time eliminou o Cene-MS, Estrela do Norte-ES e Luverdense até encontrar o Remo na grande final.

Logo no começo da partida de ida, disputada no tradicional estádio Mangueirão, o Cuiabá sofreu um duro golpe com a expulsão do zagueiro Ricardo Braz, aos 20 minutos, que cometeu pênalti convertido por Rafael Paty. Apesar da inferioridade em campo, o Dourado ainda buscou o empate com Kaique, apenas dois minutos depois.

O primeiro tempo, porém, terminou em 3 a 1 para o time azulino que via ali nascer uma boa vantagem para o jogo da volta. No segundo tempo, o Dourado ainda sofreu mais um gol e viu o título que, a princípio, seria muito difícil conquistar.

– Chegamos do 4 a 1 e já tínhamos o primeiro jogo da final do Estadual, quando ganhamos por 1 a 0 do Operário. E foi uma logística complicada, pois saímos às 5h da manhã em Belém e chegamos 18h em Cuiabá. Tinha esse desafio para recuperar os jogadores. Mas tivemos essa vitória na final do Estadual, no meio das finais da Copa Verde, que também era o jogo de ida. Eles ganharam um fôlego, sabiam da importância de conquistar aquele título. De ficar marcado na história do clube – completou Fernando Marchiori.

Naquela altura, o Dourado tinha o desafio de ver a moral dos jogadores lá no alto novamente. A vitória na primeira partida da final do Mato-grossense foi fundamental para isso. Para que a confiança voltasse ao grupo.

– A gente sabia da importância dos dois campeonatos, estávamos em duas finais. Ficamos chateados com a derrota, não teve tanto tempo para treinar e lembro que antes do jogo decisivo contra o Remo foi feito um coletivo de 15 minutos apenas, o treinador deixou os jogadores bem à vontade, sem clima de derrota. Falou para jogarmos livres e para fazermos história – relembrou Raphael Luz, herói da decisão com três gols marcados.

Os jornais e a imprensa em geral do Pará davam o título como certo nos dias pré-final. Para conquistar a taça, o Dourado precisava de uma vitória por três ou mais gols de diferença. Não há como negar que o Remo era o favorito para levantar o troféu.

– Me marcou que após o jogo em Belém, teve um carro com torcedores do Remo e nos acompanharam até o hotel, entraram e falaram que queriam se hospedar ali e que seriam quatro quartos. Enfim, aquelas brincadeiras de torcedor. E alguns amigos de Belém nos mostraram toda a logística para receber o time na volta com a festa, caminhão do Corpo de Bombeiros, camisas prontas do título. Mas eles esqueceram que aqui tinham profissionais do outro lado. Que tinham que respeitar. Usamos isso, serviu de combustível para motivar o grupo – recordou Marchiori.

Brilho de Raphael Luz e preleção motivadora

“Foi de longe as melhores partidas que já fiz na vida. Cortei a cabeça em um dos primeiros lances do jogo, tomei um soco do goleiro. Fiz os gols, vomitei no campo, foi algo assim que aconteceu em um jogo que não acontece em uma temporada toda. No intervalo nem desci ao vestiário, foram três pontos na cabeça feitos na ambulância. O médico recomendou que eu não voltasse, mas falei que não tinha como, era uma final, eu queria muito estar ali. Foi um jogo emocionante demais. Está marcado na história do Cuiabá e na minha história”.

Não tem como abrir esse tópico sem citar ou transcrever as declarações de Raphael Luz, o iluminado, no clichê da palavra. Com três gols marcados, cabeça estourada e expulsão no fim, Luz foi certamente o personagem principal da virada épica e incrível do Cuiabá.

Raphael Luz marcou seu nome na história do clube com a atuação destacada ao lado do grupo que ajudou o Dourado ser o primeiro campeão da Arena Pantanal.

– Era um jogo importante demais para nós. Tinha gente que não estava jogando de titular, como o Geovani, e arrebentou no jogo. O Diego também entrou pois o Ricardo Braz tinha sido expulso. Eles entraram tão motivados que subiram, elevaram nosso time a querer buscar aquele resultado. Foi uma semana que chegamos cabisbaixos, mas depois que começamos a treinar sabíamos que podíamos reverter o resultado – disse Luz.

Apesar da tensão com a obrigação de marcar ao menos três gols e sem sofrer nenhum, as histórias confirmam que o elenco estava preparado e com a cabeça boa para ir atrás do objetivo.

– No penúltimo treino eu tive uma conversa com eles para uma mudança tática. E naquele treino encaixou. Tanto que parei o treino. Aí motivamos eles, mostramos que tinha uma euforia do outro lado. Tinha que tirar deles a situação da diferença de gols. Eles tinham que jogar soltos, leves. Vai sair naturalmente. Deus abençoou a capacidade deles – relembrou Marchiori.

– Foi um dia muito atípico. Lembro que quando saímos para ir ao estádio e todos naquele clima sem pressão, mesmo perdido de 4 a 1 no Pará. Estava um clima gostoso no ônibus. Uma coisa que marcou no vestiário, foi quando o Marchiori falou com a gente. E ele sempre foi muito sério e convicto naquilo que ele acreditava, na formação do 4-1-4-1. E nesse dia ele falou que não ia cobrar ninguém de posicionamento, jogada, nada. Ele queria só ver a vontade e garra e para jogar como se estivesse jogando um rachão. Com isso, tirou um peso das nossas costas, aquela pressão de reverter o placar. Ele quis tirar esse peso para jogar tranquilo. Jogar com alegria e responsabilidade – afirmou o goleiro reserva André, que acabou sendo importante na decisão mesmo sem entrar em campo.

Uma das cenas marcantes antes do time subir as escadarias da Arena Pantanal foi a preleção tanto do treinador Fernando Marchiori quanto do goleiro André, reserva de Willian Alves. As imagens viralizaram nas redes sociais.

– Aquele momento foi muito especial. Na noite anterior, concentrado no CT do Dourado, eu estava deitado na cama e ficava pensando que como eu não estava jogando e não estaria em campo para ajudar eu tinha que fazer algo. Tinha que contribuir para alguma coisa. E eu ficava me cobrando isso. Tinha que dar mais. Era jogo que todos precisavam dar mais, mesmo quem estava no banco. Então foi Deus mesmo que me abençoou com as palavras. Na noite mesmo eu comecei a pensar no que falar, conhecia o grupo, a família do grupo. E naquele momento eu consegui passar para a equipe tudo aquilo que somos, o que a gente busca, o porquê estamos ali, por conta de quem estamos ali. Procurei tocar no coração de cada um e nada mais do que a família né. No fim deu tudo certo e conseguimos essa virada e ser campeão – disse André.

A goleada e o título inédito

O time entrou em campo determinado, com garra e disposição desde o início. Mais que reverter o placar e dar o título ao Dourado, o grupo sabia que precisava mostrar que era capaz de, ao menos, vencer o Remo.

O primeiro gol saiu aos 24 minutos, com Raphael Luz, de pênalti. No final do primeiro tempo, a bola sobrou, novamente para Raphael Luz, que marcou o segundo gol. E, antes do intervalo, teve tempo para o terceiro gol auriverde. Geovani cobrou falta, a bola desviou no zagueiro Dadá e entrou: 3 a 0 Cuiabá.

– Foi um dos jogos mais marcantes da minha carreira. Reverter uma situação como aquela, é muita coisa. É muito difícil e raro de acontecer. O Remo era o favorito – disse Marchiori.

Na volta do intervalo, o Cuiabá continuou atacando. O zagueiro do Remo derrubou Raphael Luz e o árbitro marcou o pênalti. O camisa 10 foi para a cobrança e marcou o quarto gol do time da casa. O resultado dava o título para o Cuiabá.

– Eu bati alguns pênaltis durante o Estadual e Copa Verde, mas eu não era o cobrador oficial. Era o Nino Guerreiro (atacante). Mas eu estava disputando a artilharia, então o Nino me cedeu a bola no primeiro pênalti. Eu era o camisa 10 e tinha que assumir essa responsabilidade. Converti o primeiro. Aí no segundo, o Nino pediu, mas eu estava confiante e bati e marquei mais um gol. Era uma decisão e fui muito feliz nas cobranças e pudemos comemorar aquela excelente virada que conquistamos. Representa o maior título da minha carreira – relatou Raphael Luz.

Após sofrer quatro gols, o Remo tentou reagir e assustou. Levy cruzou na área e Val Barreto cabeceou no canto direito: gol. Com o placar em 4 a 1, a equipe do Pará estava levando a decisão para os pênaltis. Para alívio da torcida do Dourado, Kaique deu passe de calcanhar para Felipe Blau, que passou para Nino Guerreiro dar números finais à partida: 5 a 1, título garantido e vaga na Sul-Americana de 2016.

– Tínhamos um trabalho de alguns batedores nos pênaltis. O Nino pegou a bola para bater o segundo pênalti. E eu até falei para ser o Raphael bater. E teve o espírito de grupo ali, o Raphael Luz estava inspirado. O Nino reconheceu o momento do companheiro. Naquele grupo, a vaidade não entrava. E o Nino ainda foi coroado com o quinto gol, que querendo ou não representou o gol do título – completou Marchiori.

Com o apito final, a euforia tomou conta da Arena Pantanal que àquela altura tinha pouco mais de um ano de vida. Os mais de cinco mil torcedores vibraram muito e viram os jogadores ainda mais contentes dentro do gramado.

– A festa foi incrível. Todo mundo chorando, todo mundo feliz com a sensação de que o impossível se tornou possível. Que tínhamos deixado nosso nome da história do Cuiabá. Primeira conquista nacional do clube, e da forma que foi, ficamos para a história – comemorou André.

– Para o Cuiabá foi o reconhecimento de um clube sério, correto, organizado. E de dar um salto internacional no futebol. Um clube que naquele momento não tinha tanta expressão e conquistou a vaga para um cenário internacional. Para o Cuiabá foi uma situação maravilhosa e também para todo Mato Grosso que gosta de futebol – finalizou Marchiori.

O título da Copa Verde ficou Dourado em 2015! Com uma história linda de superação, raça e que ficou marcada para sempre na memória do clube. A Arena Pantanal viveu uma noite histórica naquele 07 de maio de 2015. O Cuiabá fez o que parecia impossível. O que parecia improvável. O que parecia perdido!

CUIABÁ 5 X 1 REMO

Local: Arena Pantanal – Cuiabá (MT)
Data: 07/05/2015 – Horário: 21h30
Árbitro: Paulo Schleich Volllkopf (MS)
Assistentes: Bruno Raphael Pires (GO) e Eduardo Gonçalves da Cruz (MS)
Cartões amarelos: Kaíque, Raphael Luz e Willian Alves (CUI). Dadá, Felipe Macena, Ciro Sena e George Lucas (REM)
Cartões vermelhos: Raphael Luz (CUI), Max e Igor João (REM)
Gols: Raphael Luz 24/1T, Raphael Luz 34/1T, Dadá (contra) 41/1T, Raphael Luz 4/2T, Val Barreto (Remo) 28/2T e Nino Guerreiro 35/2T.

CUIABÁ: Willian Alves; Gean, Diego Macedo, Egon e Maninho; Bogé, Felipe Blau, Kaíque (Murilo Ceará) e Raphael Luz; Nino Guerreiro (Bruno Silva) e Giovani (Grafite). Técnico: Fernando Marchiori.

REMO: Fabiano; Levy, Max, Igor João e Alex Ruan; Dadá, Ameixa (Val Barreto), Ratinho (Sílvio) e Eduardo Ramos; Bismarck (Felipe Macena) e Rafael Paty. Técnico: Cacaio.

 

O BICAMPEONATO DA COPA VERDE

O BICAMPEONATO DA COPA VERDE

Bicampeão da Copa Verde em noite épica no Mangueirão

Em meio à disputa da sua primeira Série B do Brasileiro, o Cuiabá iniciou a caminhada na Copa Verde de 2019 em busca do segundo título da competição. O primeiro adversário foi o Iporá, de Goiás. Primeiro jogo foi no interior goiano. O Cuiabá levou para lá um time alternativo. Inclusive o técnico Itamar Schulle, do time principal, não viajou, pois o Dourado enfrentaria o São Bento-SP, na Arena Pantanal, pela Série B, três dias depois.

– A Copa Verde de 2019 está marcada na história de cada um do elenco daquele ano, pois todos tiveram oportunidades, até alguns jogadores da base, pois começamos com um time alternativo já que a prioridade era a Série B – relembra o goleiro Victor Souza.

O técnico em Iporá-GO foi Lucas Isotton, auxiliar-técnico de Schulle. No acanhado estádio da cidade goiana, numa quarta à tarde, o Auriverde venceu por 2 a 1. Caio Dantas abriu o marcador para o Cuiabá e Bosco, que passou pelo Dourado, empatou ainda no primeiro tempo. Hugo Cabral, de pênalti, na etapa final, deu a vitória ao Cuiabá.

O jogo da volta aconteceu uma semana depois, na Arena Pantanal. Mais uma vez o Dourado usou time misto e controlava a partida. Porém, aos 37 do segundo tempo, o Iporá-GO abriu o marcador com Neverton e mandou a decisão para as penalidades máximas.

O herói auriverde na noite foi o goleiro Paulo Henrique. Nas cobranças iniciais, ele defendeu os pênaltis de Wellington e de Samuel, que daria a vitória ao Iporá-GO. Nas batidas alternadas, Raul errou para o Cuiabá, mas Everton chutou no travessão. Na oitava cobrança, o goleiro Paulo Henrique se encarregou da batida e fez para o Cuiabá. Na sequência, Ronaldo bateu para fora, garantindo a classificação do Dourado.

Duelo com o Costa Rica-MS pelas quartas

Pelas quartas de final, o Cuiabá enfrentou o Costa Rica-MS, com a primeira partida sendo disputada no interior do sul-mato-grossense, no dia 9 de setembro. Novamente poupando alguns titulares, o Cuiabá saiu na frente com Caio Dantas, aos 28 do segundo tempo. Porém, quando a partida se encaminhava para o final, o árbitro assinalou um pênalti, pra lá de duvidoso, para o Costa Rica-MS. Kanu converteu: 1 a 1.

A partida de volta aconteceu no dia 11 de setembro, na Arena Pantanal. Sem muita dificuldade, o Dourado venceu por 2 a 1, garantindo vaga na semifinal. Marino, aos 5 do primeiro tempo, e o argentino Escudero, aos 4 do segundo, fizeram para o Dourado, enquanto que Kanu marcou para os visitantes, aos 29 da etapa final.



Semifinal contra time da Série A

Na semifinal o Cuiabá enfrentou o Goiás, que naquele ano estava na Série A do Brasileirão. Depois de um início ruim, o Esmeraldino, do técnico Ney Franco, estava reagindo no Brasileirão. A primeira partida aconteceu na Serrinha, em Goiânia, no dia 18 de setembro. Apesar do bom jogo do Cuiabá, o Goiás venceu por 1 a 0, gol de Leandro Barcia, aos 14 do segundo tempo. O goleiro Marcelo Rangel, do time goiano, foi o destaque do jogo, realizando, pelo menos, três grandes defesas em ataques do auriverde.

O jogo da volta aconteceu mais de um mês depois da primeira partida. No dia 23 de outubro, já comandado por Marcelo Chamusca, contratado para substituir Itamar Schulle, demitido no início de outubro, o Cuiabá fez um grande jogo, venceu no tempo normal e contou com o goleiro Matheus Nogueira nas cobranças de pênaltis.

Precisando vencer, e jogando contra os titulares do Goiás, que não poupou ninguém, as coisas pioraram para o Cuiabá quando, aos 8 do primeiro tempo, Rafael Moura recebeu na área, dominou com o braço e tocou na saída de Matheus Nogueira, fazendo 1 a 0. Só restava ao Dourado virar o marcador. O time partiu para cima e, aos 15 minutos, Jean Patrick em belo chute da entrada da área empatou.

O Cuiabá voltou disposto a virar na segunda etapa. Apertou, dominou as ações e chegou ao segundo gol com Jefinho, aos 21 minutos. Superior na partida, o Cuiabá até marcou o terceiro gol com Jean Patrick, erradamente anulado por impedimento, já que o volante do Dourado estava visivelmente em condições e o VAR neste torneio estava disponível apenas nas duas decisões. Final de jogo, vitória do Cuiabá por 2 a 1 que mandou a decisão da vaga para as penalidades.

Matheus Nogueira era o goleiro do Cuiabá, já que Victor Souza se recuperava de uma lesão na mão. Pelo Goiás o bom Tadeu estava no gol. Nas seis primeiras cobranças, todos converteram: Jean Patrick, Paulinho e Ednei marcaram para o Cuiabá.

Na quarta batida do time goiano, Alan Ruschel acertou a trave e deixou o Dourado próximo da vaga. Alex Ruan fez o quarto do Cuiabá, colocando ainda mais pressão sobre os goianos. Michael, hoje no Flamengo, foi para a batida. Matheus Nogueira voou para o canto direito e fez grande defesa, saindo para comemorar. O Doradão estava na final.

– Lembro que o Michel (Luz, analista de desempenho) tinha me passado uma colinha de como batia alguns jogadores do Goiás, mas apenas dois iriam cobrar pênaltis e não tinha nada do Michael, tinha do He-Man (Rafael Moura) e outros. Mas eu estava preparado e confiante. Na cobrança do Alan Ruschel eu lembrei que tinha falado com o Pantaneiro (preparador de goleiros) e ele falou para eu ir na cobrança chapada. Fui no canto certo, não toquei na bola, mas bateu na trave. Na cobrança do Michael, o Panta falou para eu ir na batida cruzada. Eu esperei até o último minuto e fui com tudo no cruzado e peguei. Graças a Deus deu tudo certo e fomos para a final – explica o goleiro Matheus Nogueira.

Os primeiros 90 minutos da decisão foram jogados na Arena Pantanal, no dia 14 de novembro, diante de quase 12 mil torcedores. O Cuiabá iniciou o jogo e procurou o ataque deste o primeiro minuto, tentando vencer e ter vantagem na volta. O tempo foi passando e nada de gol. O Paysandu se defendia bem e um empate já seria muito comemorado. Final de primeiro tempo e 0 a 0.

O ritmo não mudou no segundo tempo. Cuiabá com a posse de bola, mas pecando nas jogadas finais. Aos 23 minutos, o Paysandu abriu o marcador, em bola parada. Falta na intermediária, próximo ao banco de reservas. Leandro Lima cobrou fechado na pequena área, muitos jogadores na frente do goleiro Victor Souza, e Nicolas se aproveitou para de cabeça fazer 1 a 0 Papão. O Cuiabá se mandou ao ataque, mas em noite pouco inspirada não conseguiu chegar ao empate. Paysandu comemorou muito a vantagem conquistada para tentar ratificar o título uma semana depois, na panela de pressão que se tornaria o Mangueirão.

– Por estar jogando em casa, a gente tinha que ter ganho e saímos decepcionados pois a vitória não veio. Mas a final estava aberta, pelo que fizemos dentro de campo neste primeiro jogo – relembra o lateral-esquerdo e então capitão Paulinho, que seria um dos maiores protagonistas no segundo jogo.

No final de semana antes da decisão, o Cuiabá enfrentou o Figueirense, em Florianópolis, pela Série B, e usou um time alternativo, já que tinha situação confortável no Brasileiro. Empatou em 0 a 0 com o Figueira no domingo e na segunda partiu para Belém.

O clima na capital do Pará era de confiança para a torcida do Papão, que já davam o título como certo. Um dia antes, o Auriverde fez um treino no Mangueirão e, nas entrevistas, o técnico Marcelo Chamusca e o meia Alê mostraram confiança em reverter o placar, mesmo com as adversidades que o Doradão enfrentaria no dia seguinte.

Cuiabá cala o Mangueirão lotado

O dia 20 de novembro está marcado na história do Cuiabá. Foi nesta data, em 2019, que o Douradão calou o Mangueirão, com mais de 40 mil torcedores, e levantou o seu segundo troféu da Copa Verde, garantindo também vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil de 2020.

Já na chegada ao Mangueirão se notava o clima de festa e confiança do Paysandu. Mas o jogo teria que ser jogado. Mais 90 minutos. E o Cuiabá com um time superior tecnicamente teria todas as condições de reverter a derrota sofrida em casa.

A decisão foi repleta de emoções. O Paysandu, empurrado por sua fanática torcida, jogou melhor do que na primeira final e complicou ainda mais as coisas.

– A adrenalina transbordava já no aquecimento, com a casa cheia e por ser uma final. A alegria de estar em mais uma decisão com a camisa do Dourado, e gratos a Deus por mais uma grande oportunidade. O professor Chamusca nos deu muita confiança, mesmo tendo que reverter um placar adverso, nossa equipe era muito forte e consistente, pude ajudar fazendo um jogo muito bom, com segurança e motivando o tempo todo meus companheiros para que acreditássemos até a última bola. Tenho muita Fé e vi que tudo estava conspirando a nosso favor, pois foram duas bolas do Paysandu na nossa trave – relembra Victor Souza.



O primeiro tempo foi igual, com poucas oportunidades de gol. Na segunda etapa, o Cuiabá precisou se abrir e o Paysandu puxava contra-ataques com muito perigo, tanto que esteve muito próximo de abrir o placar, se não fosse a trave a salvar o Cuiabá em duas finalizações.

O Dourado não desistiu em nenhum momento e foi abençoado, praticamente, no último lance do jogo. O cronometro marcava 49 minutos. Falta na intermediária. Todos na área, incluindo o goleiro Victor Souza. O argentino Escudero, o EscuMITO, levantou na área. O lateral Paulinho, com uma cabeçada salvadora, encobriu o goleiro Giovanni do Papão. A comissão técnica e reservas do Paysandu, que já pediam o final do jogo, não acreditavam. O silêncio tomou conta do Mangueirão. Comemoração e agradecimento dos jogadores do Cuiabá.

– Quando saiu a falta, o Chamusca falou para todo mundo ir para a Arena e o Victor também foi. No primeiro momento, eu falei: Victor, não, não! Eu estava cansado, mas fui também. Veio no meu pensamento de não entrar na área, eu vou retardar que a bola pois se a bola vier fraca, vai vir na minha cabeça. E foi o que aconteceu, um milagre de Deus – conta Paulinho.

– Lembro que na hora da falta, o Escudero foi bater. Cheio de grandalhões na área, como Anderson Conceição, Ednei, Jefinhon e Jonas, eu fui pro final da linha, na segunda trave, mais pra puxar alguém da marcação. A bola vai justamente na primeira trave. E um gol que muitos não acreditavam mais, aconteceu. Paulinho foi escolhido por Deus pra fazer o gol de cabeça da linha da grande área e no último segundo de jogo – conta o goleiro Victor.

Mas a decisão não tinha acabado. Iríamos aos pênaltis. Logo na primeira cobrança, Ednei perdeu. O Paysandu converteu as quatro primeiras batidas. Na quinta e última, era fazer e sair para o abraço. Mas o destino era auriverde. O atacante Caíque Oliveira tomou distância e foi andando para a bola. Chutou de pé direito, deslocou Victor Souza, mas a bola foi para fora: 4 a 4 e fomos para as cobranças alternadas.

O Cuiabá converteu com Felipe Marques. Era a vez do Papão. Nicolas, o melhor jogador do time de Belém, que havia feito o gol na Arena Pantanal, foi para a cobrança. Tomou distância e partiu: bateu de pé direito e a bola, caprichosamente para o Dourado, explodiu no travessão: festa no gramado e em toda Cuiabá. Era o bicampeonato!

– Vencemos essa disputa com um pênalti pra fora de um atleta que nunca tinha perdido na vida e outro do artilheiro da competição que chutou no travessão, além de nossos jogadores terem sido super competentes fazendo os gols. Assim, o Cuiabá sagrou-se bicampeão em pleno Mangueirão lotado. Fizemos história nesse dia. Uma linda festa no gramado, no hotel e na volta, pois o grupo era uma família muito unida, merecedores de todo sucesso e mais uma vez predestinados pra esse grande momento – relata Victor Souza.

– Após o jogo olhei para o lado, me ajoelhei e agradeci demais a Deus pelo que fez e tem feito na minha vida. Aquele grupo merecia, pois é um grupo de homens honestos, trabalhadores e guerreiros – conta Paulinho.

FICHA TÉCNICA DA FINAL

PAYSANDU 0 (4) X (5) 1 CUIABÁ
Local: Mangueirão, em Belém (PA)
Data: 20 de novembro de 2019 – Horário: 21h (de Brasília)
Árbitro: Sávio Pereira Sampaio (DF)
Assistentes: Daniel Henrique da Silva Andrade (DF) e José Reinaldo Nascimento Junior (DF)
VAR: Wilton Pereira Sampaio (FIFA-GO)
Cartões amarelos: Giovanni, Caíque e Tomas Bastos (Paysandu); Jonas, Anderson Conceição, Paulinho, Tsunami e Djavan (Cuiabá)
Gol: Paulinho, aos 49 do 2ºT

PAYSANDU: Giovanni; Tony, Micael, Perema e Bruno Collaço; Wellington Reis (Thiago Primão), Caíque e Tomas Bastos (Leandro Lima); Nicolas, Vinícius Leite e Eliélton (Hygor). Técnico: Hélio dos Anjos

CUIABÁ: Victor Souza; Jonas, Ednei, Anderson Conceição e Paulinho; Moisés (Alex Ruan), Djavan, Alê (Escudero) e Toty (Gutierrez); Felipe Marques e Jefinho. Técnico: Marcelo Chamusca

JOGOS DO CUIABÁ NA COPA VERDE
8ª DE FINAL
Iporá-GO 1×2 Cuiabá
Cuiabá 0x1 Iporá-GO – 6 a 5 Cuiabá nos pênaltis

4ª DE FINAL
Costa Rica-MS 1×1 Cuiabá
Cuiabá 2×1 Costa Rica-MS

SEMIFINAL
Goiás 1×0 Cuiabá
Cuiabá 2×1 Goiás – 4 a 3 Cuiabá nos pênaltis

FINAL
Cuiabá 0x1 Paysandu
Paysandu 0x1 Cuiabá – 5 a 4 Cuiabá nos pênaltis

 

O ACESSO À SÉRIE B DO BRASILEIRO

Longos e difíceis sete anos na Série C

O Cuiabá chegou à Série C do Brasileiro em 2012, após o acesso conquistado em 2011. A ideia do clube era passar rápido pela terceirona e, em pouco tempo, ir para a Série B, uma divisão já considerada de elite, com transmissão de todos os jogos, além da possibilidade de enfrentar grandes clubes, ter cota de TV mais substancial e ficar a um passo do Brasileirão.

Mas o caminho do Dourado na terceira divisão até o acesso à Série B foi longo; em sete temporadas, altos e baixos, quase dois rebaixamentos, e o tão sonhado acesso conquistado em 2018, sob o comando do técnico Itamar Schulle, que por muito pouco não foi demitido na metade da Série C daquele ano.

O zagueiro e capitão Ednei fala sobre a inesquecível temporada do Dourado.

– 2018 foi um ano espetacular. O Cuiabá, depois de alguns anos brigando para permanecer na Série C, resolveu apostar em um novo elenco, praticamente formado do zero e com um novo treinador, o Itamar. Assim que eu recebi o convite do professor Itamar eu aceitei na hora, pois sabia que seria um ano especial. Desde os primeiros treinos, dos primeiros amistosos, o Itamar viu que eu tinha uma liderança e me colocou como capitão, foi uma caminhada extraordinária naquele ano. De início, campeões invictos do Estadual, fizemos uma boa campanha na Copa do Brasil e se via que tínhamos um elenco forte. Mas no início do Brasileiro chegaram jogadores importantes, como o Marino, Alê, João Carlos, Eduardo Ramos, Edson Borges que deram muita qualidade ao time na Série C.



Mas até 2018, a caminhada foi longa. Em 2012, na primeira Série C, o clube já sentiu dificuldade. Terminou na 8ª posição do Grupo A, com os mesmos pontos do Salgueiro-PE, que acabou rebaixado no saldo de gols. No ano seguinte, mais um campeonato muito difícil para o Dourado. Campanha irregular e a permanência na Série C foi conquistada na vitória de virada sobre o Brasiliense, por 2 a 1, na última rodada, em Brasília, rebaixando o rival.

Em 2014, campanha apenas mediana, somou 23 pontos e terminou na sétima posição, mesma colocação alcançada na edição de 2015, quando somou 19 pontos. Em 2016, o Cuiabá ficou em sexto lugar, com 22 pontos, a quatro pontos do ASA-AL, que ficou em quarto e se classificou para o mata-mata.

Na Série C de 2017 o Cuiabá melhorou a sua classificação, ficou em sexto, apenas a dois pontos da zona de classificação. Disposta a mudar o rumo do clube, a diretoria do Cuiabá decidiu que era hora de investir.

A temporada 2018 do Cuiabá começou em novembro de 2017, com a contratação do técnico Itamar Schulle, que estava no Botafogo-PB. Na sua primeira competição a frente do Auriverde, um time competitivo que acabou sendo campeão estadual invicto, com jogadores com o goleiro Victor Souza, o zagueiro Ednei e o atacante Jenison, que também se destacariam no Brasileiro meses depois.

Busca por reforços e a quase queda de Itamar

Apesar do título Mato-grossense, para a Série C o elenco do Auriverde era carente. A diretoria foi ao mercado e trouxe reforços. Chegaram o volante Marino, o meia Eduardo Ramos, o lateral Danilo, o atacante Bruno Sávio, entre outros. Um reforço que retornava ao clube, mas que demorou para engrenar no time de Itamar Schulle naquela Série C foi o meia Alê, peça fundamental, principalmente nos dois jogos do acesso, como poderá ver mais para frente nesta história.

– Em minha primeira passagem pelo Cuiabá, em 2017, joguei metade da Série C do Brasileiro. Fiz apenas 10 jogos naquele ano, mas foram jogos fundamentais para que eu pudesse retornar no ano seguinte – relembra Alê, que no primeiro semestre de 2018 disputou o Mineiro pelo Uberlândia.

O começo da Série C foi animador para o Cuiabá, como conta o goleiro Victor Souza.

– Começamos muito bem. Já na estreia um clássico mato-grossense contra o Luverdense. Ganhamos com gol do Marino, um dos grandes destaques daquela competição, fazendo nove gols. Começamos muito bem, sempre dentro do G4 e jogando bem, pontuando em todas rodadas e vencendo jogos decisivos. Porém, tivemos uma queda de rendimento nas últimas três rodadas do primeiro turno, perdendo os três jogos e saindo da liderança para sétima colocação – conta Victor, fazendo referência as derrotas sofridas na Arena Pantanal para o Ypiranga-RS e o Bragantino e para o Tombense-MG, fora de casa. Ali, a situação do técnico Itamar Schulle estava complicada.

No início do returno, o Cuiabá teria um jogo importante, em Lucas do Rio Verde, no dia 16 de junho. Uma nova derrota poderia custar o cargo de Schulle.

– Lembro que tivemos uma semana bem difícil, conturbada e triste entre nós mesmo, pois havia a possibilidade da troca do Itamar. Nós jogadores nos reunimos, conversamos e decidimos brigar pela comissão, que sempre deu confiança a todos, passamos a segurança pra toda a diretoria – explica Victor Souza.

O capitão Ednei também ressalta a importância da vitória em Lucas e da permanência do técnico Itamar Shulle.

– Começamos bem, mas de repente as coisas começaram a dar errado e ficamos alguns jogos sem vencer. Acredito que por um instante a diretoria e a torcida começou a ter um pouco de desconfiança. Tínhamos o jogo contra o Luverdense, em Lucas, e a diretoria resolveu manter o Itamar. Fomos pressionados, precisando vencer para voltar a brigar pelo G4. Me lembro que na ida teve um acidente na estrada e ficamos por várias horas no acostamento e precisamos ir caminhando até chegar a um restaurante na beira da estrada, onde comemos arroz com um pouco de carne de porco, que era o que tinha ainda no restaurante. Me lembro que o auxiliar, o Lucas (Isotton), me disse que tudo estava dando errado, mas eu disse que iria dar certo e que iriamos ganhar o jogo, e ele me prometeu um churrasco em caso de vitória. Eu disse que poderia já preparar o churrasco que iriamos vencer. Me lembro que o Itamar mudou um pouco o time e nós amassamos o Luverdense. Victor pegou pênalti do Rafael Silva, que era um jogador importante do Luverdense. Fizemos uma partida espetacular, o Alê fez um golaço e foi uma oportunidade para ele se tornar o jogador do nível que ele está hoje. Foi com essa vitória que se acendeu a luz que iriamos brigar pelo acesso – contou.

O Cuiabá foi até Lucas e venceu por 3 a 1. Alê foi um dos destaques do jogo, Victor pegou um pênalti e começou a arrancada do Dourado em busca do acesso.

– Retornei ao clube para a Série C, com o Itamar como treinador, mas para mim foi o momento mais complicado, pelo fato de começar a competição como reserva e fui ter minha primeira oportunidade como titular em um clássico com o Luverdense Fiz um golaço, um dos mais bonitos que fiz com a camisa do Cuiabá. Daí em diante, firmei como titular e no fim conseguimos o tão sonhado acesso à Série B – descreve Alê.

Victor Souza relembra e destaca o ressurgimento de Alê para o time.

– Naquela semana de dificuldade o Itamar descobriu um dos principais jogadores do acesso, o Alê, que até então tinha jogado apenas 45 minutos contra Volta Redonda na segunda. O Alê passou o turno inteiro sem entrar nos jogos. Contra o Luverdense, ele foi titular, fez um golaço, deu outro passe e foi o melhor em campo, retomando toda confiança.

Após vencer o Luverdense, o Dourado conquistou mais quatro vitórias seguidas, contra Volta Redonda, Botafogo-SP, Tupi-MG e Joinville. Victor Souza se destacou nestes jogos, defendendo uma sequência de três pênaltis em três jogos.

– Contra o Luverdense, no dia que o Itamar poderia sair, eu pude ajudar pegando um pênalti, o primeiro na competição, e, por incrível que pareça, peguei mais dois pênaltis em sequência, contra o Volta Redonda-RJ e contra o Tupi-MG. Depois destas vitórias, nossa equipe encaixou e evoluímos de uma maneira muito positiva. Foi a melhor decisão manter o predestinado Itamar Schulle, um grande treinador, que sempre extraía o melhor de cada um e sabia do grupo que tinha em mãos – conta o goleiro.



Acesso diante do surpreendente Atlético Acreano

Com a grande campanha do returno, quando conquistou seis vitórias, o Cuiabá terminou a fase de classificação com a terceira melhor colocação do Grupo B e, pela primeira vez, iria disputar o mata-mata valendo o acesso à Série B. O adversário seria o surpreendente Atlético Acreano, que liderou o Grupo A por boa parte da primeira fase, mas ficou na segunda posição.

Jogo de ida na Arena Pantanal e a volta na Arena Florestão, em Rio Branco. O Dourado estava próximo da Série B, mas sabia que teria um duelo difícil pela frente e precisava abrir vantagem no primeiro jogo.

Segunda-feira, dia 20 de agosto. Arena Pantanal com quase 24 mil torcedores para empurrar o Dourado, o técnico Itamar Schulle mandou a campo o que tinha de melhor naquele momento. O Cuiabá encontrou um adversário duro pela frente e também teve que passar por cima da dificuldade encontrada pelo péssimo estado do gramado da Arena Pantanal.

Coube ao predestinado Alê, reserva em todo o primeiro turno, e já titular absoluto, abrir o marcador para o Auriverde, aos 37 do primeiro tempo, após cruzamento de Eduardo Ramos, para delírio da torcida auriverde.

No segundo tempo, o Atlético-AC melhorou na partida, criou oportunidades para empatar, mas o Cuiabá tinha uma equipe sólida e concentrada em campo e contou com boas defesas do goleiro Victor Souza. Mas o placar de 1 a 0 era pouco. Aos 42 do segundo tempo, levantamento a área de Escobar e Edson Borges apareceu sozinho na área para, de cabeça, fazer o segundo do Dourado e abrir boa vantagem para o jogo da volta.

– O Atlético Acreano era um time muito forte, com o objetivo de atacar o tempo todo. Sempre muito ofensivo e conhecidos por atacar a qualquer custo ou morrer atirando. Fizemos um belíssimo placar em casa, com passe do Eduardo Ramos para o gol do Alê, que foi, em minha opinião, o jogador mais decisivo desde que entrou e principalmente nos jogos do acesso, pois fez gol nos dois jogos. O Eduardo Ramos foi um dos principais jogadores da competição, com mais assistências e sete gols marcados, o número 10 clássico. O outro gol foi do Édson Borges no final do jogo, nos dando uma segurança maior pro jogo de volta, já que no Acre eles faziam valer o mando de campo – explica Victor Souza.

Quem também ressalta a importância dos 2 a 0 na ida é zagueiro Ednei.

– Logo no primeiro tempo fizemos o primeiro gol, com o Alê, mas sabíamos que precisava de mais um gol para levar uma situação mais encaminhada para o Acre e conseguimos chegar ao segundo gol no segundo tempo, com o Edson Borges, que nos deu uma condição melhor para o jogo da volta.

Chegava o dia do tudo ou nada. Segunda-feira, 27 de agosto, Estádio Florestão como palco e dois gols de vantagem. A partida começou com o Atlético-AC se mandando ao ataque, pois precisava reverter a derrota de uma semana atrás. O Dourado cadenciava e buscava os contra-ataques. Final de primeiro tempo e 0 a 0 no placar. Faltavam mais 45 minutos para o sonhado acesso.

O Cuiabá voltou melhor, aproveitou os espações e aumentou a vantagem. Ele, Alê, aos 2 minutos fez para o Dourado. 3 a 0 no placar agregado. O Atlético-AC se lançou de vez ao ataque e acabou punido. Aos 28 minutos, rápido contra-ataque e Bruno Sávio fez o segundo do Cuiabá. Só um milagre para evitar o acesso do Dourado, pois faltavam cerca de 20 minutos para o final e a vantagem era de quatro gols.

Mas o Auriverde deu uma relaxada e o time da casa ainda teve tempo de chegar ao empate, com Rafael aos 36 e Diego aos 42, mas não teve forças de evita o acesso dourado à Série B do Brasileiro, para a festa de todos os atletas, comissão técnica e diretoria, além de torcedores do Cuiabá no Florestão. Como era uma partida muito importante, a diretoria do Cuiabá mandou para Rio Branco todo os jogadores do elenco e também praticamente todos da comissão técnica e funcionários, que vibraram com o resultado histórico.

– Nós fomos para o jogo da volta no Acre muito confiantes, pois o Atlético teria que se abrir para reverter. Fizemos 2 a 0 e acabamos ficando confortáveis no jogo e eles acabaram empatando. Foi o nosso jogo mais importante, pois foi o jogo do acesso – conta o capitão Ednei.

– No Acre foi um dos jogos mais difíceis que enfrentamos, pois o Atlético finalizou mais de 30 vezes e mesmo com 2 a 0 do primeiro jogo era muito perigoso caso sofrêssemos o gol. Porém, seguramos muito no primeiro tempo e precisávamos fazer um gol pra tranquilizar ainda mais. Alê e Bruno Sávio marcaram e deram uma segurança imensa pra gente, tínhamos mais uns 30 minutos pra segurar o placar, eles ficaram com cinco atacantes, jogaram tudo pro ataque, fizeram dois gols, mas pude ajudar muito nas defesas decisivas a segurar a vantagem, enfim conquistamos o tão sonhado acesso pra entrar na história do Dourado.

Alê, autor de dois gols nos jogos do acesso, relembra dos momentos vividos pelo Cuiabá.

– Me firmei como titular durante o segundo turno da Série C e no fim conseguimos o tão sonhado acesso à Série B, e eu conseguindo marcar gols nos dois jogos decisivos contra o Atlético Acreano. Então pontuo esse ano como o mais importante pra mim dentro do clube. Em 2019, meu último ano pelo clube, foi o ano de mais conquistas. Conseguimos ser campeões invictos no estadual e eu terminando a competição como melhor jogador do campeonato. Na Série B, fizemos uma boa campanha e permanecemos na divisão. E na Copa Verde também saímos campeões, coroando o ano com dois títulos e a permanência. A palavra que encontro é gratidão por tudo que o clube, funcionários e torcedores fizeram por mim. Sempre fui tratado com muito carinho por todos, por isso sempre vou torcer e levar o clube e a cidade dentro do meu coração.

Semifinal contra o Botafogo-SP e a final perdida inexplicavelmente

Após as comemorações do acesso, o Cuiabá voltou a se concentrar no restante da Série C. A meta está conquistada, mas o time queria o título nacional. Na semifinal, o Dourado enfrentou o Botafogo-SP. Na Arena Pantanal, o Cuiabá dominou as ações, mas o goleiro João Lucas do time paulista teve grande atuação e o placar não saiu do 0 a 0.

Na volta, em Ribeirão Preto, domínio total do Auriverde e vitória incontestável por 3 a 0, com dois gols de Jenison e um de Danilo.

O Cuiabá estava na final na Série C e iria enfrentar o Operário-PR. Na primeira fase, já havia vencido o time paranaense por 4 a 0 em Cuiabá e empatado em Ponta Grossa por 1 a 1.

O primeiro jogo foi no Paraná. Empate emocionante por 3 a 3, após o Dourado estar vencendo e sofrer o empate aos 45 do segundo tempo. Marino, dois, e Jenison fizeram os gols do Cuiabá. Ao final do jogo, uma confusão e briga generalizada no campo e nos vestiários acirraram a rivalidade.

O jogo da volta foi na Arena Pantanal, quebrando o recorde de público do estádio, com 41.311 torcedores presentes.
O Cuiabá foi superior, dominou completamente o jogo, criou, pelo menos, quatro chances claríssimas de gols, mas parou no goleiro “São” Simão, que fez milagres para garantir a vitória dos paranaenses, que marcaram 1 a 0 com Bruno Batata, aos nove do segundo tempo.

– Infelizmente não fomos campeões numa situação surreal. Pois fomos muito melhores que o Operário-PR, mas todo mundo se lembra dos milagres do “São Simão”, que garantiu a vitória deles. Mas aquela história que construímos na Série C foi sensacional. Ficará marcada para sempre na minha memória. Sou muito grato ao Cuiabá por tudo que me proporcionou, os títulos, os acessos, ser um dos jogadores que mais jogou com a camisa do clube. Espero um dia retornar, caso seja a vontade de Deus – contou o zagueiro Ednei em entrevista especial para esta matéria.

O goleiro Victor Souza fala da importância para o clube e para os jogadores do acesso de 2018.

– O acesso para a Série B foi uma das grandes conquistas de muitos daquele elenco de guerreiros, para o clube uma mudança de patamar e o divisor de águas pra todos. Naquele elenco tinha muitos jogadores jovens, que precisavam de alguma grande conquista na carreira e, sem dúvidas, abriu grandes portas para a maioria, principalmente para goleiro que as coisas são pouco mais difíceis, sair de uma Série C e ter a possibilidade de jogar a Série B geralmente é subindo com o time, então coloquei na cabeça como grande objetivo pessoal e esse acesso foi o divisor de águas da minha vida.

Fichas dos dois jogos diante do Atlético-AC

Ficha Técnica – Jogo de Ida
Cuiabá 2×0 Atlético Acreano
Arena Pantanal – Cuiabá-MT
20/08/2018 – 21h (de Brasília)
Público: 19.421 pagantes – Renda: R$ 263.685,00
Árbitro: Raphael Claus (SP)
Assistentes: Danilo Ricardo Simon Manis (SP) e Rogerio Pablos Zanardo (SP)
Quarto árbitro: Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral (SP)
Gols: Alê 37’/1’T e Edson Borges 42’/2T (Cuiabá)

CUIABÁ: Victor Souza; Jean, Ednei, Edson Borges e Ronaell (Marcelo Xavier); Escobar, Alê, Marino e Eduardo Ramos (Geovani); João Carlos (Jenison) e Bruno Sávio. Técnico: Itamar Schulle.

ATLÉTICO-AC: Ruan; Matheus, João Marcus, Diego e Alfredo; Leandro, Tauã (Rafael Tanque) e Rafael Bastos; Kássio, Eduardo e Neto. Técnico: Álvaro Miguéis.

Ficha Técnica – Jogo da Volta
Atlético Acreano 2×2 Cuiabá
Estádio Florestão – Rio Branco-AC
Público: 6.740 pagantes – Renda: R$ 139.600,00
27/08/2018 – 21h (de Brasília)
Árbitro: Luiz Flavio de Oliveira (SP)
Assistentes: Miguel Cataneo Ribeiro da Costa (SP) e Alex Ang Ribeiro (SP)
Quarto árbitro: Adriano de Assis Miranda (SP)
Gols: Rafael 36’/2ºT e Diego 42’/2ºT (Atlético-AC) e Alê 2’/2ºT e Bruno Sávio 28’/2ºT (Cuiabá)

ATLÉTICO-AC: Ruan; Matheus (Rafael Tanque), João Marcus, Diego e Alfredo (Douglas); Leandro, Tauã (Igor Goularte) e Rafael Bastos; Kássio, Eduardo e Jeferson. Técnico: Álvaro Miguéis.

CUIABÁ: Victor Souza; Jean, Ednei, Edson Borges e Danilo; Escobar, Alê, Marino e Eduardo Ramos (Marcão); João Carlos (Jenison) e Bruno Sávio (Adriano Pardal). Técnico: Itamar Schulle.

 

JOGOS DO CUIABÁ NA SÉRIE C 2018
FINAL
22/09 – Cuiabá 0x1 Operário-PR – Arena Pantanal
16/09 – Operário-PR 3×3 Cuiabá – Ponta Grossa

SEMIFINAL
08/09 – Botafogo-SP 0x3 Cuiabá – Ribeirão Preto
02/09 – Cuiabá 0x0 Botafogo-SP – Arena Pantanal

QUARTAS DE FINAL (valendo acesso)
27/08 – Atlético-AC 2×2 Cuiabá – Rio Branco-AC
20/08 – Cuiabá 2×0 Atlético-AC – Arena Pantanal

FASE DE CLASSIFICAÇÃO
18ª Rod – 11/08 – Bragantino 2×1 Cuiabá – Bragança Paulista
17ª Rod – 04/08 – Cuiabá 2×1 Tombense-MG – Arena Pantanal
16ª Rod – 29/07 – Ypiranga-RS 3×0 Cuiabá – Erechim
15ª Rod – 22/07 – Operário-PR 1×1 Cuiabá – Ponta Grossa
14ª Rod – 14/07 – Cuiabá 5×0 Joinville – Arena Pantanal
13ª Rod – 07/07 – Tupi-MG 1×3 Cuiabá – Juiz de Fora
12ª Rod – 30/06 – Cuiabá 2×1 Botafogo-SP – Arena Pantanal
11ª Rod – 23/06 – Cuiabá 3×0 Volta Redonda-RJ – Arena Pantanal
10ª Rod – 16/06 – Luverdense 1×3 Cuiabá – Lucas do Rio Verde
9ª Rod – 09/06 – Cuiabá 0x1 Bragantino – Arena Pantanal
8ª Rod – 02/06 – Tombense 3×2 Cuiabá – Tombos-MG
7ª Rod – 26/05 – Cuiabá 1×2 Ypiranga-RS – Arena Pantanal
6ª Rod – 19/05 – Cuiabá 4×0 Operário-PR – Arena Pantanal
5ª Rod – 12/05 – Joinville 2×3 Cuiabá – Joinville
4ª Rod – 05/05 – Cuiabá 1×0 Tupi-MG – Arena Pantanal
3ª Rod – 28/04 – Botafogo-SP 0x0 Cuiabá – Ribeirão Preto
2ª Rod – 21/04 – Volta Redonda 3×0 Cuiabá – Volta Redonda
1ª Rod – 15/04 – Cuiabá 1×0 Luverdense – Arena Pantanal

DOURADO CHEGA À ELITE NACIONAL

Curta passagem pela Série B

O Cuiabá chegou pela primeira vez à Série B do Brasileiro em 2019. O clube, por ser fora do eixo e o futebol de Mato Grosso estar em baixa desde os anos 80, era visto por muitos como um dos candidatos para o rebaixamento e voltar à Série C rapidamente. Porém, não contavam com a estrutura de clube-empresa do Dourado, sem dívidas, pagando salários em dia e que já se destacaria em sua primeira Série B.

Em 2019, chegou a ficar no G4, caiu de rendimento, trocou o técnico Itamar Schulle por Marcelo Chamusca no início do returno e voltou a estar perto da zona de acesso até as rodadas finais, terminando na oitava posição, com 52 pontos.

Mas o trabalho na retal final de 2019 serviu para a temporada 2020. Vários jogadores mantidos, assim como o técnico Marcelo Chamusca.

 

Pandemia e a paralisação do futebol

Quarta-feira, dia 18 de março de 2020, o Dourado se preparava para enfrentar o Luverdense, pela ida das quartas de final do Estadual. O coronavírus tomava conta do Brasil e do mundo. O futebol brasileiro para e sem saber quando voltaria. A diretoria do Cuiabá coloca todos os atletas e comissão técnica de férias e aguarda o desenrolar da pandemia. Todos atônitos. Era a primeira vez que essa geração enfrentava uma pandemia de tal proporção.

O zagueiro Anderson Conceição lembra bem do momento atípico.

– Nosso acesso de 2020 teve vários obstáculos, pandemia, montagem do grupo, não sabia se o campeonato voltava ou não, indecisões, treinamento online, mas muitas vezes nem tinha onde treinar. Eu particularmente acordava às 5 horas para correr na rua, arrastava dois ou três para ir comigo, Auremir e Everton Sena, para não perdemos nosso condicionamento. Às vezes eu ia para o CT treinar, se preparar e focar.

 

O goleiro João Carlos também lembra da dificuldade que a pandemia impôs.

– 2020 foi muito conturbado e especial. Conturbado por conta do Covid, pelas perdas, pelos problemas de mortes e incertezas, preocupação, ansiedade pois não sabíamos que proporção ia tomar e realmente tomou proporções muito graves.

Abril, maio e junho e nada da bola rolar, mas a pressão dos grandes clubes, emissoras de TV e também da CBF e das federações era para o retorno do futebol, seguindo normas e regras sanitárias para a segurança dos envolvidos nos jogos, que teria apenas a presença das duas delegações, arbitragem e staff envolvido nas transmissões.

Depois de muitas conversas e negociações, o retorno do futebol e do Brasileiro ficou marcado para o início de agosto com término apenas em janeiro de 2021. O Cuiabá voltou aos treinamentos, aos poucos, e iniciou a preparação para a Série B, com estreia marcada para o dia 7 de agosto, contra o Brasil de Pelotas, na Arena Pantanal.

 

– Quando foi liberada a competição, foram marcados dois amistosos contra o Atlético-GO e Goiás, dois clubes da Série A, e fizemos dois bons jogos. Empatamos com o Atlético-GO e ganhamos do Goiás. Isso foi muito importante, ali foi o primeiro ponto que deu o início ao nosso acesso. Realmente o grupo todo começou a acreditar que a gente estava no caminho certo e tivemos um parâmetro a nível nacional que tínhamos potencial para conquistar o acesso – conta o goleiro João Carlos se referendo a pré-temporada feita em Goiás.

 

Cuiabá começa com tudo a Série B

Comandado por Marcelo Chamusca e com alguns reforços que chegaram antes do início da Série B, como o zagueiro Everton Sena, o lateral Romário, e os atacante, Felipe Ferreira, Fabrício Daniel e Yago, o Dourado começou a Série B com um empate em 0 a 0 diante do Brasil de Pelotas, na Arena Pantanal, mas bem que poderia ter vencido com facilidade. O Auriverde foi muito superior, dominou todas as ações, mas falhou nas finalizações. Empate e estreia amargos.

O medo do coronavírus também era latente nos atletas e comissão técnica, como conta João Carlos.

– No começo foi difícil, voltamos com medo de estar infectado, mas todos concordaram em retornar. Tivemos que nos adaptar pois nunca tínhamos jogado sem público. Nunca tínhamos jogo com o ambiente vazio, onde só nós ali competíamos em silêncio. Até se adaptar a isso foi uma questão nova. Mas acredito que todos se adaptaram bem. Os clubes tentaram fazer de alguma forma o barulho da torcida e isso foi importante também.

 

Da segunda rodada em diante, o time deslanchou. Foram quatro vitórias e um empate, 14 pontos e a liderança da Série B assegurada. O Dourado venceu na sequência o América-MG em BH, o Confiança na Arena Pantanal, o Avaí na Ressacada e a Chape na Arena Pantanal, em uma virada histórica. A Chape vencia o jogo até os 47 minutos do segundo tempo, quando Anderson Conceição fez o gol de empate e o Dourado partiu para cima chegando à vitória um minuto mais tarde com o atacante Yago. Na sétima rodada, empate contra o Botafogo-SP fora de casa e chegou a primeira derrota, que foi para o Vitória por 4 a 2, no Barradão, no dia 5 de setembro.

– Quando começou o campeonato, nosso time estava muito focado, muito forte. O Chamusca montou junto com a diretoria uma equipe muito qualificada tecnicamente e fisicamente. Começamos o campeonato voando, mesmo com a pandemia e o tempo parado em casa. Iniciamos a Série B voando, foram vários jogos invicto. Começou uma série de lesões graves, mas era um grupo qualificado e acabou suprindo – conta Anderson Conceição.

Na sequência, o Dourado empatou em casa com o Figueirense e buscou duas vitórias seguidas, fez 2 a 1 no CSA-AL em Maceió e goleou o Oeste, em casa por 3 a 0. Pela 11ª rodada, empate contra o Operário-PR, em Ponta Grossa. O Dourado estava entre os líderes e teria dois jogos em casa para abrir vantagem.

No primeiro deles, pela 12 ª rodada, jogo duro contra o Náutico, que estava na zona de rebaixamento, mas vitória do Dourado por 1 a 0 com gol de Jenison.

Quatro dias depois, o Cuiabá receberia o todo poderoso Cruzeiro na Arena Pantanal. O Dourado estava liderando a competição e brigando pelo acesso, posição que todos esperavam do Cruzeiro, que tinha apenas sido rebaixado.

Mas o quadro era diferente. O Cruzeiro vinha mal, no meio da tabela e sentia a dificuldade da segundona. Em um jogo muito equilibrado, um contra-ataque mortal, aos 49 do segundo tempo, saiu a vitória ao Cuiabá com gol de Felipe Marques. O Dourado começava a chamar ainda mais a atenção na Série B.

 

Na sequência, mais dois resultados importantes. Empate por 1 a 1 com o Juventude-RS, fora de casa, já que os dois clubes estavam no G4. Foi neste jogo que o atacante Elton, recém-contratado, marcou seu primeiro gol pelo Auriverde. Seria o primeiro de nove que ele marcaria até o final da competição. Depois, veio a vitória contra a Ponte Preta, por 2 a 1, na Arena Pantanal. O Cuiabá liderava a Série B com 32 pontos, seis a mais do que a Chape, vice-líder.

As coisas que funcionam em perfeição começaram a emperrar. O time tinha apenas uma derrota em 15 jogos, mas passaria por momentos complicados na competição.

Dois jogos contra equipes que brigavam para não cair e derrota para o Guarani, por 1 a 0, fora de casa, e empate com o Paraná Clube, por 3 a 3, em Cuiabá. Nas últimas duas rodadas do turno, derrota para o Sampaio Corrêa, fora de casa, por 3 a 0, e a vitória diante do CRB-AL, na Arena Pantanal. O Cuiabá fechou o turno com 36 pontos na segunda colocação, já que a Chape liderava com surpreendentes 40 pontos.

– Chegamos à liderança e abrimos vantagem do quinto colocado, fizemos um primeiro turno sensacional e que nos deu uma margem muito boa. E tivemos um momento de sofrer com lesões. Tivemos ao todo mais de 20 lesões musculares, mas o planejamento da diretoria foi perfeito, pois montou um elenco forte e competitivo, que conseguiu superar isso. No fim do primeiro turno até oscilamos um pouco, misturado com o sucesso da Copa do Brasil. Chegamos a sair do G4, mas mantivemos o foco, a perseverança e confiança, pois sabíamos da nossa capacidade – relembra João Carlos.

 

Returno complicado com troca de técnico e Covid

Focado também na disputa nas quartas de finais Copa do Brasil, já que tinha eliminado o Botafogo-RJ e enfrentaria o Grêmio nas próximas duas semanas, em meio aos jogos da Série B.

E foi um segundo turno que já começou agitado. Logo de cara, uma derrota para o Brasil em Pelotas, por 3 a 0. Na quarta-feira após a derrota no Sul, o Cuiabá receberia o Grêmio pela Copa do Brasil, na Arena Pantanal. Mas justamente no dia do jogo uma bomba inesperada. Precisamente ao meio-dia, a diretoria do Dourado informou oficialmente a saída de Chamusca, que tinha aceitado o convite do Fortaleza para assumir a vaga de Rogério Ceni, que tinha ido para o Flamengo. Franco Muller assumiu o time interinamente.

 

Muller comandou a equipe na derrota para o Grêmio, por 2 a 1, e no empate diante do América-MG, por 0 a 0. Pela Série B. no domingo, dia 15 de novembro, o Auriverde anunciou a chegada do técnico Allan Aal, que tinha começado a Série B com o Paraná Clube, mas estava desempregado.

– Sempre fizemos uma campanha regular, campanha boa, sempre ali pelo G4 e chegou uma hora que o nosso treinador (Marcelo Chamusca) recebeu uma proposta e acabou saindo. Isso deu uma desestabilizada, saiu um pouco do trilho, mas tínhamos um grupo muito focado, muito trabalhador. A diretoria sempre nos deu muito respaldo também. Chegou o Alan Aal, pegou a equipe meio que saindo do trilho, nos ajudou a voltar ao caminho – conta Anderson Conceição.

João Carlos também fala da importância da chegada de Allan Aaal.

– O Chamusca teve muito mérito na nossa campanha, foi um dos responsáveis. Ele nos preparou mentalmente, fisicamente e psicologicamente. Nosso time teve muito sucesso com ele, passamos na Copa do Brasil, estávamos no G4. Aí ele recebeu uma proposta e aceitou para seguir a vida dele. Chegou o Allan Aal que encaixou perfeitamente no elenco, soube lidar com a desconfiança pelas oscilações. Ele é um cara muito enérgico e amigo ao mesmo tempo. A gente sentia que ele estava do nosso lado, quando ele cobrava era porque realmente a gente tinha condições de mostrar. Ele também foi muito importante. Mais uma vez a diretoria acertou no perfil de treinador que a gente precisava.

O primeiro jogo de Aal foi a derrota para o Grêmio, em Porto Alegre, na eliminação da Copa do Brasil. Já a estreia na Série B foi com derrota para o CSA-AL, na Arena Pantanal, por 1 a 0.

 

Pela 23ª rodada, o Cuiabá enfrentaria o Confiança, em Aracaju. Foi aí que o coronavírus, que já vinha assombrando os demais clubes, mostrou sua cara no Dourado.

Contra o Confiança, antes mesmo do jogo, atletas positivados. Entre eles Yago e Elton. No retorno para Cuiabá, mais 11 diagnosticados e sem condições de jogo: Elvis, Ferrugem, Léo, Luiz Gustavo, Jenison, João Carlos, Nenê Bonilha, Rafael Gava e Willians Santana.

O Cuiabá tinha caído para a quinta colocação na Série B, não vencia há sete jogos, e teria uma partida fundamental contra o Avaí, em casa, mas com a equipe repleta de desfalques. E foi um jogo repleto de emoções. O Dourado saiu na frente do marcador com Maxwell no primeiro tempo e dominava as ações.

Aos 25 minutos do segundo tempo, o atacante Getúlio do Avaí saiu em contra-ataque e vinha sendo acompanhado por Anderson Conceição. Quando ele chegou na área, mesmo não sendo acertado por Conceição, se jogou e a arbitragem marcou pênalti inexistente. Não havia ainda o uso do VAR nos jogos da Série B. Era o empate do Avaí que vinha de quatro vitórias nos últimos cinco jogos.

Porém, aos 50 minutos, o predestinado Maxwell recebeu na área, cortou o zagueiro e bateu rasteiro para garantir a vitória do Auriverde e o retorno ao G4.

 

Neste jogo, o Cuiabá teve como técnico à beira do gramado o auxiliar Mário Henrique, já que o técnico Allan Aal e o seu auxiliar diretor Anderson Valiñas estavam com Covid.

– Superamos um momento muito delicado com a força do grupo, que foi quando tivemos um surto de Covid, tanto infectando atletas quanto comissão. Com certeza, foi o pior momento, pois tínhamos alguns atletas ainda se recuperando de lesão quando aconteceu esse fato. Repito, a força do grupo foi fundamental para superarmos. E justamente nesse momento tivemos confrontos diretos e decisivos. O jogo contra o Avaí que vencemos em casa, com praticamente todo time que não vinha atuando com frequência, me marcou muito, pois após o jogo o grupo ofereceu a vitória para os atletas que estavam infectados e que depois retornaram firmes pra alcançarmos o acesso juntos. Sempre será um dos momentos mais importantes na minha vida futebolística, mesmo estando no futebol profissional há 21 anos, esse será um dos momentos que levarei no coração, por tudo que fizemos e conquistamos profissionalmente – reconta o técnico Allan Aal.

O capitão Conceição também cita o jogo do Avaí como um dos mais importantes na caminhada.

– Contra o Avaí tínhamos uns 10 desfalques, jogamos na raça e ganhamos por 2 a 1. Foi uma vitória da superação de todos e mostrou que tínhamos um grupo comprometido e que ia brigar até o final.

Ainda com muitos atletas em recuperação do Covid, o Cuiabá perdeu para a líder Chape fora de casa, venceu o Botafogo-SP, por 2 a 0, na Arena Pantanal. Contra o Vitória, o Dourado esteve na frente por duas vezes, mas acabou cedendo o empate por 3 a 3.

Na 28ª rodada, um jogo importante, pois o Dourado enfrentaria o Figueirense, que lutava para sair do Z4 em Floripa. O Cuiabá mandou no jogo, perdeu três grandes ocasiões e foi castigado perdendo por 1 a 0 com um gol após cobrança de escanteio. O Dourado novamente estava fora do G4 faltando 10 rodadas para o término.

Para começar a sequência final da Série B, o Cuiabá tinha pela frente o lanterna Oeste, em Barueri. Vitória por 2 a 0, gols de Elton e Jenison e retorno ao G4. Outra vitória importante foi diante do Operário-PR, por 2 a o, na Arena Pantanal, pela 30ª rodada.

Depois, dois jogos fora de casa em meio ao Natal e Ano Novo. Para encerrar o ano, derrota para o Náutico, por 2 a 0, no Recife, e empate por 0 a 0 diante do Cruzeiro, em BH.

 

Acesso conquistado em 2021 sem entrar em campo

O ano de 2021 começou com o Cuiabá no G4 e seis jogos pela frente. O primeiro e muito importante seria diante do Juventude, que brigava diretamente pelo G4. Vitória do Dourado por 1 a 0, gol de cabeça do zagueiro e capitão Anderson Conceição.

João Carlos fala da sequência positiva na reta final.

– Começamos a ganhar novamente, depois da vitória contra o Oeste, voltamos e ganhamos do Operário, aí empatamos com o Cruzeiro, depois vitórias sobre Guarani e Juventude. O jogo mais importante foi um confronto direto que ganhamos do Juventude por 1 a 0, na Arena Pantanal. Aquele jogo, por ser direto, conseguimos encaminhar o acesso, que ficou na palma da nossa mão. Ali, a gente sabia que seria difícil escapar.

 

Dias depois, mais um jogo importante em Campinas, pois a Ponte Preta estava a poucos pontos do G4 e queria uma vitória para seguir sonhando com o acesso. O time campineiro esteve duas vezes na frente do marcador, mas o Dourado chegou ao empate com gols de Marcinho e Jenison. Maxwell teve a bola para fazer o gol da vitória do Cuiabá aos 48 do segundo tempo, mas acabou escorregando e falhando na finalização: 2 a 2 em Campinas e mais um ponto.

– O divisor de águas nessa campanha foi um jogo contra a Ponte Preta, o empate por 2 a 2, em Campinas. A partir dali o time não perdeu mais, contamos com o retorno dos atletas e quando tinha esses atletas a gente era muito forte – conta Anderson Conceição.

O final se aproximava. O Cuiabá teria o Guarani pela frente na Arena Pantanal. O time de Campinas com um surto de Covid e com meio time sem condições de jogo, praticamente a mesma situação vivida pelo Cuiabá, principalmente, nos jogos contra Confiança, Avaí e Chape.

O Guarani pediu para a CBF adiar o jogo, mas a entidade não estava adiando partidas de nenhum clube por coronavírus, visto que os surtos eram generalizados. O Cuiabá goleou por 4 a 0 e chegou aos 58 pontos. O acesso estava perto faltado três jogos.

A última vitória do Cuiabá na Série B, praticamente, selando o acesso aconteceu em Curitiba. Era 19 de janeiro, com muita chuva no Durival Britto e o adversário, o Paraná Clube, lutando contra o rebaixamento. O Cuiabá dominou as ações, mandou no jogo e venceu por 2 a 0. Elvis, de cabeça, e Yago, fizeram os gols que levaram o Dourado aos 61 pontos e abrindo vantagem para os mais próximos adversários pelo G4, Juventude e CSA-AL, mais especificamente.

 

O acesso poderia vir na 37ª rodada e até mesmo sem o Cuiabá entrar em campo. O Dourado enfrentaria o Sampaio Corrêa na Arena Pantanal fechando a rodada. No mesmo dia, mas pela tarde, o Juventude receberia o Figueirense, e no início da noite, o CSA-AL teria o Brasil de Pelotas pela frente. Um empate nestes dois jogos já garantia o acesso do Auriverde.

No primeiro jogo, em Caxias, a coisa estava dando certo. O Figueirense abriu o marcador aos 39 do segundo tempo, o que já ajudava o Cuiabá. O Juventude, porém, virou com gols 42 e 48. O acesso poderia vir no jogo de Maceió, que terminaria justamente quando o Cuiabá estaria entrando em campo para enfrentar o Sampaio Corrêa.

Jogadores do Dourado concentrados e se preparando para o jogo. Aos poucos, começaram a chegar as informações de Maceió. O resultado estava ajudando. Aos 37 do primeiro tempo, Bruno José abriu o marcador para o Brasil. O CSA-AL chegou ao empate aos 10 do segundo tempo e começou a pressionar em busca da vitória.

Neste momento, os jogadores do Cuiabá já se aqueciam no gramado da Arena Pantanal e pediam informações de Maceió. Tensão no ar. Aos 48 minutos, Leandro Castán marcou para o CSA-Al, mas o gol foi anulado por impedimento. O jogo foi até os 51 minutos. Os atletas do Dourado não sabiam se perguntavam pelo jogo de Maceió ou mantinham a concentração no aquecimento. Apito final! 1 a 1 em Maceió e o histórico acesso do Cuiabá estava sacramentando independente do resultado que teria nos dois últimos jogos.

 

Festa dos atletas, comissão técnica e diretoria. Do lado de fora da Arena, a torcida fez festa com foguetório e muito barulho. Doradão na Série B. Não muito focados no jogo, o Cuiabá perdeu por 3 a 1 para o Sampaio Corrêa, mas a derrota não deixou ninguém triste. Comemoração também após o jogo.

Na última rodada da competição, já sem muitos jogadores e com um time alternativo, o Cuiabá encerrou a Série B com uma derrota para o CRB-AL, fora de casa.

– Foi uma experiência maravilhosa e inesquecível. Uma caminhada longa, decisiva no segundo turno, muito difícil, mas com um grupo muito qualificado, muito trabalhador e acima de tudo muito unido, que nos recebeu de braços abertos. Tínhamos uma relação de confiança mútua e isso facilitou muito a assimilação de todos em relação a aquilo que tínhamos de ideia de jogo, e por isso as coisas deram muito certo e conseguimos alcançar esse feito histórico. Uma sinergia de vestiário, treinamentos, viagens que marcou demais todos nós. Sempre serei grato demais aos atletas, aos profissionais do dia a dia, à toda diretoria e a torcida que nos apoiou do início ao fim e nos recebeu de braços abertos – relembra Allan Aal.

Titular em 33 dos 38 jogos, o goleiro João Carlos ressalta a importância do feito conquistado.

– Não relaxamos em momento algum. Na reta final, a gente embalou, voltou a ser aquele time que jogava bonito e alegre. Felizmente deu tudo certo, foi um ano incrível, ano de preocupações em questão de saúde, mas profissionalmente foi um ano incrível, fizemos história no cube, conquistamos o acesso que planejamos desde o começo do ano. Tínhamos time para subir e colocamos em prática e acreditar que chegamos na competição para levar. Não veio o título, mas o acesso veio. Fiquei muito feliz por jogar 33 partidas e fiquei muito contente de fazer parte desta história, deste clube que é sensacional.

A palavra superação também foi usada por Anderson Conceição.

– Tínhamos um grupo muito competitivo, sempre brigando pelo acesso. No final, Deus nos coroou com o acesso que foi muito merecido pela campanha, pelo grupo que a gente tinha e o trabalho de todos, desde comissão técnica, diretoria e a chegada do Alan Aal nos fortaleceu muito para conseguir esse acesso. Teve muita superação nesse ano de 2020 que terminou em 2021. Para mim a palavra do acesso foi a superação. Foi um ano muito atípico, de entrega, de focar mais, trabalhar mais, ser mais competitivo e o Cuiabá teve tudo isso e conseguiu. O clube foi feliz de montar um grupo de muito caráter que vai ficar marcado para sempre na memória do torcedor.

 

CLASSIFICAÇÃO DO CUIABÁ NA SÉRIE B:
4º – Cuiabá – 61 pontos – 38 J – 17V – 10E – 11D – 48 GP – 40 GC – 10 SG

JOGOS DO DOURADO NA SÉRIE B 2020:
38ª Rod – CRB-AL 4×1 Cuiabá – 29/01/2021, Rei Pelé
37ª Rod – Cuiabá 1×3 Sampaio Corrêa – 22/01/2021, Arena Pantanal
36ª Rod – Paraná Clube 0x2 Cuiabá – 19/01/2021, Durival Britto
35ª Rod – Cuiabá 4×0 Guarani-SP – 14/01/2021, Arena Pantanal
34ª Rod – Ponte Preta 2×2 Cuiabá – 11/01/2021, Moisés Lucarelli
33ª Rod – Cuiabá 1×0 Juventude – 05/01/2021, Arena Pantanal
32ª Rod – Cruzeiro 0x0 Cuiabá – 29/12/2020, Arena Independência
31ª Rod – Náutico 2×0 Cuiabá – 22/12/2020, Aflitos
30ª Rod – Cuiabá 2×0 Operário-PR – 18/12/2020, Arena Pantanal
29ª Rod – Oeste-SP 0x2 Cuiabá – 15/12/2020, Arena Barueri
28ª Rod – Figueirense 2×0 Cuiabá – 12/12/2020, Orlando Scarpelli
27ª Rod – Cuiabá 3×3 Vitória – 08/12/2020, Arena Pantanal
26ª Rod – Cuiabá 2×0 Botafogo-SP – 05/12/2020, Arena Pantanal
25ª Rod – Chapecoense 1×0 Cuiabá – 01/12/2020, Arena Condá
24ª Rod – Cuiabá 2×1 Avaí – 27/11/2020, Arena Pantanal
23ª Rod – Confiança 2×0 Cuiabá – 24/11/2020, Arena Batistão
22ª Rod – Cuiabá 0x1 CSA-AL – 21/11/2020, Arena Pantanal
21ª Rod – Cuiabá 0x0 América-MG – 14/11/2020, Arena Pantanal
20ª Rod – Brasil de Pelotas 3×0 Cuiabá – 07/11/2021, Pelotas
19ª Rod – Cuiabá 3×0 CRB-AL – 31/10/2020, Arena Pantanal
18ª Rod – Sampaio Corrêa 3×0 Cuiabá – 24/10/2020, Estádio Castelão
17ª Rod – Cuiabá 3×3 Paraná Clube – 21/10/2020, Arena Pantanal
16ª Rod – Guarani-SP 1×0 Cuiabá – 13/10/2020, Brinco de Ouro
15ª Rod – Cuiabá 2×1 Ponte Preta – 09/10/2020, Arena Pantanal
14ª Rod – Juventude 1×1 Cuiabá – 06/10/2020, Alfredo Jaconi
13ª Rod – Cuiabá 1×0 Cruzeiro – 03/10/2020, Arena Pantanal
12ª Rod – Cuiabá 1×0 Náutico – 29/09/2020, Arena Pantanal
11ª Rod – Operário-PR 1×1 Cuiabá – 22/09/2020, Ponta Grossa
10ª Rod – Cuiabá 3×0 Oeste-SP – 19/09/2020, Arena Pantanal
9ª Rod – CSA-AL 1×2 Cuiabá – 16/09/2020, Rei Pelé
8ª Rod – Cuiabá 0x0 Figueirense – 08/09/2020, Arena Pantanal
7ª Rod – Vitória 4×2 Cuiabá – 05/09/2020, Barradão
6ª Rod – Botafogo-SP 1×1 Cuiabá – 01/09/2020, Ribeirão Preto
5ª Rod – Cuiabá 2×1 Chapecoense – 28/08/2020, Arena Pantanal
4ª Rod – Avaí 0x2 Cuiabá – 22/08/2020, Ressacada
3ª Rod – Cuiabá 1×0 Confiança-SE – 18/08/2020, Arena Pantanal
2ª Rod – América-MG 0x1 Cuiabá – 11/08/2020, Arena Independência
1ª Rod – Cuiabá 0x0 Brasil de Pelotas – 07/08/2020, Arena Pantanal

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